A Sociedade Estéril

A todo instante o rastro de uma dissimulação é contemplado por um olhar alheio. O ser dito humano ruma à morte interior de seus propósitos. O ser dito humano prova de sangue ser sujo, detestável, vil, desprezível, sem índole sexual ou moral, de caráter fétido, de mentiras fartas, transbordando o instinto sobre o altruísmo mascarado.

As ruas infestadas de vozes cotidianas engaioladas pela mídia de palavras baratas e valores caros. As ideologias vendidas e trocadas em cada esquina. As igrejas e os bares que crescem em uma mesma proporção. O ar soando em nossos ouvidos com o hálito de um abismo. As imagens se dissolvendo nos jornais. O simples fato de a morte ser o ato mais trivial no coração dos homens. A juventude estéril que se mata nas praças. A TV que defeca falsidades ideológicas e idiossincráticas nos que a chamam de Deus. A música prostituta dos ouvidos e do dinheiro dos pais dos adolescentes ignorantes e ridículos. Os Best-sellers ganhadores do troféu de mais vendido do mês e menos lido no ano. Os filmes artificialmente com uma única finalidade própria – dinheiro. Existe mais vida nos celulares que no olhar das crianças. Há mais oxigênio na solidão do quarto que no campo onde gemem os mortos.

Segundo Rimbaund “a vida é a farsa a ser levada por todos”, atores de seus atos, personas de suas faces, paliativos de seus medos, até onde a mentira aguenta? Até onde o instinto terá pudor? Até onde será o bastante? Quando? Onde?

Sinto o discurso niilista nos lábios do ateu. A verdade que reina sobre as prostitutas e os bêbados. A linguagem dos poetas embriagados e loucos. O festim dos gritos contidos nos dias de raiva. O ódio sombrio que faz parte da raça humana.

A cada dia sinto mais falta da falta que sentia quando ainda podia apenas senti-la.

Rumo ao caos, cegos, mudos, surdos e destroçados. Politicamente ignaros e inábeis. Voluntariamente fantoches da caixa negra. Desprezavelmente religiosos aos que manipulam a fé. Convencionalmente sem tempo para respirar e olhar ao redor das folhas que caem sobre o solo. Consumidores de si próprios. Sociopatas de suas essências. Doenças no mundo. Indiscutivelmente atrasados para tudo.

É tarde. Ontem, hoje, amanhã. É tarde. Eternamente tarde.

Despertar não mais é preciso, Maiakovski, agora é necessário... a voz sair da garganta, mas eles roubaram a língua... o pensamento... a mente... a critica... roubaram a parte humana...

E agora tudo é teatro... tudo é vão...

A perspectiva voeja invisível, insólita, solúvel...

Diego Martins
Enviado por Diego Martins em 05/09/2011
Reeditado em 18/08/2014
Código do texto: T3202940
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