... ACONTECEU, ACONTECE, ACONTECERÁ...
... ACONTECEU, ACONTECE, ACONTECERÁ...
(Autor: Antonio Brás Constante)
A PROCURA DA MULHER: Abram caminho em suas mentes. Prestem atenção ao que vou lhes contar: Por Uma legião de mulheres um anjo vai passar. Elas carregam em suas costas a lida de muitas vezes servir, e nos olhos o brilho de sonhar. Rostos em prantos, envoltos em mantos. Seguem elas pela estrada da vida. Uma delas será a escolhida. Mulheres comuns. Brasileiras. Humilhadas. Castigadas. Empregadas senão de um patrão, de um Senhor. Cantando cantigas como hinos de louvor.
A ESCOLHA: Escolhido teu nome, não por pureza, mas pela nobreza necessária ao fardo que irá carregar. Em teu ventre, cresce bastardo um fruto sagrado, marcando-te como mulher impura, perseguida, por estar prenha sem o consentimento de ser. Aceitas a dura sina do sofrimento que virá. Sozinha na vida, provas o fel do teu mundo, que lhe percebem como ser imundo, merecedor de pedras do pudor. Segue em frente, guerreira Maria, levando no bucho o nosso Salvador.
O MENSAGEIRO: Chegam em seus sonhos de rudimentar trabalhador, os mensageiros de divinas agruras. Que são lançadas em teu colo como prece, que em ti padecem, dizendo: “parte em auxilio a imaculada, maculada, marcada para ser mais que tua. Para ser mãe do Redentor”. Estende-lhe a mão, mostra-lhe o perdão. Seja homem. Deixando de lado a honra e o orgulho de macho. Tenha coragem de ser excluído. Mostra-te protetor e amigo, do filho de tuas dúvidas. Acredita no Arauto, abriga como tua a mulher escolhida, assumindo o papel de ilegítimo pai.
A FUGA: Protegido no véu soturno, sobre um deserto escaldante, segue perdido um casal errante. Fogem da morte, fogem dos guardas, fogem do preconceito que destrói a alma. Marcas na areia deixadas pra trás. Sinais das estrelas lhes acompanham no ar. Perseguição incessante, de homens armados, buscando sangue inocente para mata-lo. Medo precoce de quem ainda não nasceu. Lanças e espadas atravessando o peito de crianças desamparadas. Feridas abertas, ferros afiados, buscando cegos o coração do predestinado.
EM BUSCA DE ACOLHIDA: Portas fechadas lhes recusam morada. Seguem os peregrinos, rezando mudos, pedindo clemência a muitos ouvidos surdos. Chora Maria. Sofre José. Os dedos fechados batem madeiras, Buscando pousada. Nada. A angústia aumenta. A indiferença se sustenta. Acode o menino! Acode a criança! Salva meu filho! Salva a esperança! Sem acolhida ou apoio, seus corpos cheios de dores sofrem unidos vários dissabores.
A ESPERA: E entre tantas dificuldades, como até hoje ainda acontece, a mulher vai ter um filho. Criança inocente, com a cabeça a prêmio. O salvador vem como presente, para apagar nosso passado, para dar-nos um futuro, para fazer-nos pensar. Alguém vai nascer. Sem teto ou casa. Sem nada. Vai nascer menino, sobre seus ombros o mundo como destino. Brotar como semente. Desconhecido, inocente. Surgir da necessidade, trazendo consigo promessas de bondade e esperanças de salvação.
O NASCIMENTO: É chegada a hora. O repouso se faz necessário. O cansaço da caminhada, o peso do corpo é preciso aliviar. Já que as tristezas, as negativas pela estrada, isso o descanso não consegue tirar. Pari Maria! Nos dá tua resposta de amor em troca da nossa ignorância. Brilha Estrela! Brilha forte no céu! – Ilumina a jornada, toca o coração dessas multidões de pessoas alienadas. Ensina-lhes o caminho, não do comércio ou da futilidade, mas de sua própria humanidade.
ATO FINAL: Nasceu pobre criança. A face pronta para bater. Germinou em meio ao ventre do povo, de rostos sofridos, perdidos, explorados pela opressão. Foi parida como mártir, para mostrar o caminho da redenção. Onde Jesus nasceria hoje? Onde escutaríamos seu choro infantil? Os sinos e gargalhadas abafam seus gemidos de dor fome e frio. A pressa nos venda os olhos, para os cristos abandonados que moram neste Brasil.
(SITES: www.abrasc.pop.com.br e www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc)
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