Origem da orginalidade
Agora eu quero ser alguma coisa que as pessoas não gostariam de ser, mas o grande problema que reside por trás dessa ideia grandemente absurda é o fato de que as pessoas já são absolutamente tudo aquilo que há disponível para o que se deseja ser, então por isso eu não faço ideia de como eu me safaria desse paradoxo infinito de infinitas probabilidades de ser algo totalmente inovador. Se eu fosse um fazedor de água provavelmente eu me tornaria o sujeito mais rico de toda a crosta terrestre, apenas pelo fato de que não existe uma alma perambulante por esse círculo azul que consiga fazer água, exatamente porque a água que existe é a mesma quantidade de água que existia quando a grande frente comunista tomou o poder naquele lugar frio e europeu/asiático cujos ventos sopram com odores etílicos e muitas batatas são servidas freneticamente todo o tempo sem parar. Não dá pra pegar as malditas partículas de hidrogênio e de oxigênio dispersas aí pelo ar, junta-las de alguma forma e fazer água como se fosse uma receita de uma torta de framboesas silvestres, mas é claro que a minha afirmativa negativa consiste na minha inadequação científica em inferir categoricamente (embora nem tampouco os cientistas possam afirmar qualquer tipo de merda categoricamente) que toda essa minha ideia absurda vai acontecer justamente pra que eu ganhe muito dinheiro. Isso é bastante planglossiano e no entanto ainda assim continuo a procura de alguma coisa diferente pra ser, alguma coisa, qualquer coisa que ninguém jamais tenha ousado pensar ou sequer cogitar algum traço de possibilidade terrena de ocorrer efetiva e concretamente. Empreendedorismo é a grande ideia pra se tornar um arrogante, então as idéias empreendedoras devem permear o meu ideário inventivo e não apenas por causa dos mananciais financeiros que irão aflorar no meu quintal, e não apenas também pelos luxuosos brioches que serão servidos todos os dias às cinco da tarde na mesma mesa em que bules fumegantes de porcelana chinesa repletos de chás indianos temperados com especiarias pra comprovar minha elegância decadente, mas sobretudo pelo fato de sair pelas alamedas cercadas por jardins floridos declarando publicamente o quanto eu sou extremamente necessário para aquilo que chamam de desenvolvimento social de toda a espécie humana, canina, felina, roedora etecétera. Empreender um empreendimento que empreende a capacidade de gerar energia em grande escala a partir do pesado caminhar humano sobre as vias cujo albedo é deveras elevado das grandes metrópoles e assim aproveitar toda essa energia gerada pela geração obesa estadunidense que pisa com mais vontade no solo e, portanto, o impacto sempre acaba sendo com maior intensidade e portanto mais (muito mais) energético, além de ser um grande bem para o planeta no tocante ao negócio todo de salvar o planeta e também de preservar as baleias – mesmo as que residem boa parte dentro dos fast foods em cada esquina – seria fundamentalmente imprescindível para que eu pudesse comprar um par descente de óculos escuros, sem contar tudo o que cerca essa inovação que me tornaria único e especial e milionário, alias bilionário, e salvador dos animais e das plantas e de todo o resto que existe por aí em todos os lugares do circulo azul com manchas esbranquiçadas residindo sobre o casco da gigantesca mãe tartaruga nadadora profissional do espaço obscuro e tal. E as divagações retóricas ficam sempre cutucando essa massa cinza que teima em permanecer num ambiente de baixa entropia, de modo que no final de todas as contas incitam a busca pela criativa origem de tudo que ainda não existe, e é claro que eu preciso enfatizar que toda essa pressão exercida não só na minha imaginação mas também na dos meus antepassados mundanos e sicranos, procura pelo objetivo crucial de achar a originalidade instantânea que nunca cai como uma luva enquanto estamos andando de trem, por exemplo. A originalidade tem a sua origem em algum limiar que reside entre a necessidade, a despreocupação absoluta, o ócio burguês, o desregramento romano e o acaso. Eu procuro pela origem seja ela qual for, embora eu acredite que ela reside em algo que transcende toda a nossa percepção concreta e palpável das coisas todas, porque daí todo o resto vem por difusão facilitada e daí tudo fará todo o sentido. Eu procuro por originalidade a fim de me tornar comum. Eu procuro pela arrogância. Eu procuro pela insignificância existencial. Eu procuro pela normalidade diferenciada que me elevará para o porão das baixas altitudes. Eu quero ser alguma coisa que as pessoas não gostariam de ser.