PRECONCEITO
Hoje me dói o coração, fui mãe forçada, estraçalhada pela
loucura humana, sou apelidada, muitas são as risadas da minha
luta, mas dizem-me puta. Tenho grande coração, esforço-me
em caminhar, respirar é tão difícil, sou doente sem culpa, tenho
tamanha gordura, que me fazem uma comédia, sou motivo de
muitos risos enquanto choro minha pouca força para plantar.
Fiquei louco na guerra, nesse mundo surdo aos gritos de
desespero, esse mundo cego para a fome, mas atento às
aparências. Vale mais o belo normatizado, o nojo estigmatizado,
a hipócrita luta das drogas, choro a mão negra estendida,
desentendido prejulgamento, que tanto lamento.
Hoje eu canto a noite, pela manhã ou na chuva, vejo o
arco-íris e sonho meu caminho, hoje esqueço a raiva do meu
próximo ante a minha diferença como exemplo da caveira,
Descarnada e imortalizada como um símbolo da verdade,
sem carne nem riqueza, iguais em todas as partes, assim
somos na verdade queiram ou não os santos de ocasião.