Queria Ser Como as Águas

Queria ver o sol por entre as gotas do orvalho da manhã...

De dentro delas saborear o frio do ar, e das folhas, a morte vã...

Queria andar nas ruas mesmo que correndo nos cantos...

De longe ouvir e escoar os prantos ...

Ser o alimento da passarada, e dar forças pras revoadas...

Queria o tempo, fazer chover...

E no sereno das madrugadas amanhecer...

Correr nos rios, descer montanhas...

Contornar pedras os paus e folhas...

Queria ser água para ser livre...

Querer ser mares e desafios...

No entardecer chover as seis...

E com carinho tocar no solo, molhar a terra onde me fiz...

E evaporar, subir dos muros...

Cruzando longe por todo lado, e dar a volta por todo o mundo...

As vezes cair em algum rio...

As vezes entrar no chão sombrio...

E lá repousar sem mais saber...

Se algum dia serei chover...

Queria ser água pra ser irmã do Sol...

Pegar carona, chover na grama, molhar as roupas do seu varal...

Ser da piscina o seu amor...

E nas decidas por entre as flores, voar nas asas do beija-flor...

Queria ser mar...

E com o rio me encontrar...

Das minhas represas, as fortalezas fugir de lá...

E me ajuntar com outros mais...

E violentos, já sem desejos, bater no cais...

Sou eu sem arcos, sem medidas...

Quero ser água, para ser vida...

Ser seu refresco, sua bebida...

E me soltar por entre as curvas, pelos zênites do mundo afora...

Pra não ser mais, aquele homem...

Que por descuido eu fui outrora...

JCRS
Enviado por JCRS em 30/08/2011
Reeditado em 30/08/2011
Código do texto: T3191209
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