O Sábio e o Poeta

O sábio conhece a verossimilidade da verdade humana e conhece, de certo modo, a verdade última das coisas, mas não consegue revelá-la a todos; a ele, porém, é revelada totalmente mesmo que de modo obscuro. O sábio conhece e não conhece, conhecendo assim o que não se pode conhecer, pois conhece a ele mesmo: o que é e o que não é. Conhece o tudo e o nada, por isso conhece algo que, por sua vez, não é nada de nada, porém é o que não é, sendo sempre o que é, apenas é.

O poeta contempla a razão de si mesmo. Não sabe o que diz e pensa, mas sabe o que precede e sucede estes; não sabe de onde vem isto, mas sabe sua verdadeira origem. Ele sabe e não sabe, não sabe e sabe, por isso, pode falar de nada e tudo, sobre o que não pode ser dito ele diz e com propriedade; como e por que, não sabe, apenas sabe e não sabe o porque disto. É o enigmático que nem o sábio consegue compreender em seu todo; é o desvelador do mistério dos mistérios, porém, por sua vez, é escondido à sua própria existência e compreensão; por isso não consegue explicá-lo a outrem. Ele é um fingidor, pois sabe o que não sabe e não sabe o que sabe, e, mesmo que ele não saiba, basta observar e apreender que já conhece algo sobre este algo. O poeta é um sábio e o sábio é um poeta.

Falar do sábio e do poeta e do que eles conhecem é o mesmo que tentar acender uma fogueira que queima, incessantemente, numa densa chuva, com duas pedras polidas. Fala-se melhor desses quando não se diz nada sobre eles. Há e não há...