Ícaro d`amor
Mas assim que fui e não mas voltei
Pois as asas que tinha nas costas
Eram na verdade, punhais de um cortês
Amor que não me deu respostas
Mas, à minha esperança, desfez.
E como agora me sinto por dentro?
Como se alguém me tivesse violado
O segredo que ao mundo sempre tenho
De ser o menos e mais amado
E eu nunca de ti tive posse...
Mas o doce que deixavas na minha boca
Era a ânsia-vontade da próxima vez
Em que beijaria a minha boca
E me provaria mais uma vez
Como eu a ti nunca provei?
A questão é que a culpa é toda minha
Infiel e ferido metido a coitado
Traio quem me ama como vicio abandonado
Mas que nas horas em que preciso
Tenho, sempre, alguém do meu lado.
Como queria de novo que tivéssemos assim
Abraçados como se num corpo só
Ligados pelos desejos do risco
Vedados pelo amor e suor
Mas, hoje, me sinto muito menor.
Eu era mais inteiro naquele tempo
No qual, de ti, eu era parte
Mas, nunca fui totalmente seu
Pois aos compromissos estava dedicado
Fui feliz em manter-me compromissado.
Até ontem não me deixaste dormir
Persegui seu mimo de voz na cama
E nada achei de quem só trai
Mas, como eu, seguro ama
Amarrei-me pra quase morrer...
E até o pescoço me afogava este pecado
De quem é ateu por não obedecer ao pregado
Por quem controla os meus horários
E a visa de quem muito amo
E a vida de quem só sempre traio!
Que em mim caia por favor um raio!
Não mereço o título de bom coração
Raio parto em quem em mim há confiado
Guio o cego ao que lhe fere sempre a mão
Amo de amor de amizade traio de tesão.
Não devia ser assim a ordem das coisas
Por que me deixaste na estrada
A mingua do carinho dos outros
A maldade de quem cuida da carência
Em mim nem a um algoz ofereço crença.
E voei mesmo sem ser Anjo
De alma atroz envolto e sedado
Vi que o meu do caminho é gostoso
Difícil é manter o destino alcançado
Minhas asas derreteram em luz.