Padeço de enorme frustração



Padeço de enorme frustração, pois ainda não consegui aflorar em minha mente um real sentimento de amor universal.

Incomoda-me ver o sofrimento alheio, as injustiças sociais e as falaciosas e quase mágicas promessas da esperança apregoadas tanto pelo estado quanto por religiosos, cada um por seus interesses específicos. Falta-me ainda a coragem definitiva e real para, de peito aberto, ser mais que simples suporte aos necessitados, mas que simples muletas para os abandonados, mas que simples caridoso para os excluídos. Faltam-me a assim audácia, ousadia e coragem para ser muito mais que um simples revoltado, para ser mais que um simples construtor de abrigos, para ser mais que um desbravador de atalhos ou mesmo para ser mais que um simples minimizador da dor que impede a dignidade humana e a felicidade de muitos. Tudo isto é necessário frente a emergência e a premência de ajudar nossos irmãos, mas nada disto produz verdadeiramente resultados quanto a inclusão social, quanto a dignificação verdadeira do ser humano e nem frente a atual situação degradante de nossa realidade política, econômica e social, a qual ingenuamente sustentamos.
 
A transformação social necessita de maior ousadia e coragem para nos expormos, mesmo que possamos bater de frente quanto aos interesses dos poderosos, dos fazedores de opinião, e mesmo frente a alguns de nossos amigos. A dignidade social e humana é mais importante que a impressão que possam ter de mim. Ajudar é premente, mas transformar é a solução, e a transformação de qualquer sociedade, como ao longo do tempo nos foi mostrado, é que sempre foi necessária alguma dor temporária. Não existe transformação se apenas fizermos caridade, ou em casos piores nos abstermos da caridade emergencial apenas por acreditarmos ser responsabilidade do estado. Acorde eu, acordemos nós, o estado somos todos nós, a sociedade é quem escolhe seus representantes. A sociedade consiste de cada um de nós e de nossos atos, desejos e comportamentos. Delegar ao estado esta transformação e nada fazer para que isto realmente aconteça é se esconder de nossas responsabilidades, transferindo-as para terceiros.
 
Assim, sendo também responsável, decorrente de certo comportamento omisso frente a verdadeira ousadia necessária para esta transformação social e humana, sinto-me frustrado.  
Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 29/08/2011
Reeditado em 29/08/2011
Código do texto: T3189387
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