Humanismo



Por definição concordo com os princípios humanistas, discordo apenas quando o humanismo é exacerbado a tal ponto que um antropocentrismo quase absoluto passa a ganhar existência e a dominar nossa própria vaidade.
 
A identificação do ser humano como centro absoluto da própria existência me parece um pouco como a busca de um deus que transcendendo a nós próprios nos daria maior importância, mas que ao percebermos esta impossibilidade, alguns acabam agora buscando em seu lugar um deus homem, um super homem, e isto me parece um desvio sério do rumo de um humanismo equilibrado.
 
Acreditar que a própria realidade só se faz útil quando direcionada para, por ou pelo homem, e valorar acima de nossa comum existência, a própria existência do homem, talvez seja reflexo de nossa própria e natural arrogância, egoísmo e vaidade.
 
Que o homem seja importante, creio sinceramente que sim. Viver buscando como ÚNICA razão, a dignificação ou a felicidade do ser humano é um exagero que me provoca apreensão.
 
Dignificar o humano é importante, mas antes, ou no mínimo em paralelo, dignificar a vida como um todo é muito mais importante ainda. Dignificar a vida me levará por natural causa a dignificar o homem, pois o ser humano é também um ser vivo.
 
Viver buscando a felicidade própria e a dos demais seres humanos é importante, porém viver buscando uma felicidade simbiótica com toda a natureza é para mim muito mais premente.
 
O homem é importante, mas não sendo nada de especial em relação à natureza que lhe permite existir, acaba sendo a natureza mais importante que ele.
 
Humanismo que valorize o ser humano sim, humanismo que traga para a realidade humana a importância e as necessidades básicas, é necessário, mas um humanismo que eleve o homem ao auge da criação, que mitifique a importância do ser humano como um super homem ou um deus homem, razão primeira do próprio existir me incomoda muito.
 
A vida na natureza terrestre compõe um nicho quase perfeitamente simbiótico no todo. A existência e a perduração desta vida depende diretamente e indiretamente de outras vidas. A vida é como que um grande nicho simbiótico.
 
Mesmo que internamente, isolando o nosso corpo do resto da natureza, somos um complexo nicho biológico: bactérias convivem e nos ajudam na tarefa da sobrevivência. Mesmo se tomarmos uma única de nossas células, notaremos que as mitocôndrias foram seres autônomos que de forma simbiótica passaram a compartilhar do nosso viver.
 
O homem é tão somente mais um exemplar de uma espécie específica a passar pelo nosso planeta e que como todas as outras espécies perecerá um dia, ou terá de mutar para sobreviver. 

Humanismo que defenda, respeite, dignifique e que busque uma felicidade social sim, mas nenhum ser humano pode ser em totalidade mais importante que a essência da vida e nem mesmo que a natureza que lhe permite existir. Esta frase não me é fácil, posto que o amor pelos meus filhos é praticamente infinito, mas mesmo assim, eles só existem pela essência bioquímica que os permitem ser e viver além de pela mãe natureza que os compõem em essência e em realidade, em outras palavras ninguém existe, e entre eles meus filhos, sem a imanência da natureza.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 26/08/2011
Reeditado em 27/08/2011
Código do texto: T3184326
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