Escrever é preciso
Escrever é preciso.
É um bom tratamento.
O que escrevo é a visibilidade do outro que me habita.
E então eu posso ver o inimigo.
Desarmá-lo.
Fazê-lo rir.
Não há na escrita o mesmo risco do pensar.
Aqui não enlouqueço, pois os pensamentos são transpostos.
Eu posso expulsá-los e
então aprisioná-los em letras.
As palavras são algemas bem apertadas
para esses pequeninos criminosos.
Eles não fogem porque brincam até cansar.
Dançam entre as curvas dos esses,
Pulam dos travessões dos tês,
se escondem debaixo das linhas,
até que se esquecem de brigar.
Mas o que é mesmo bonito
é vê-los afoitos, amigos,
a mergulhar nas águas dos ós.