A Peste

Ainda posso ver as sombras dos anjos da morte que pairavam sobre os corpos dos que sucumbiram...

Sinto o cheiro do sangue na terra. Sangue daqueles que procuraram pela vida em vão...

Nossas cabeças confusas, sofriam o açoite dos que já nos protegeram.

Conturbados e fracos levantamos nossas foices e revidamos...

O sangue rolava como a última taça do velho ébrio e inerte...

A peste descia como benção das trevas sobre nossas carcaças doentes e cansadas...

Vi, tão nobre era, agora, nada mais é, senão corpos trancados no mesmo caixão.

Nossos templos outrora tão belos de ouro e jóias, agora, ornados de coágulos infecciosos.

Poucos de nós restaram, ainda assim, sobre as pilhas de mortos em valas, fétidas podíamos enxergar a luz...

E mais uma vez vencemos a lei natural.

Unimos-nos como um só, sob a montanha de corpos de onde, em breve, galgaremos o topo...

Pois, somos a água no copo, os nômades do eterno, nos ajustamos ao meio.

Somos a pior praga de nos mesmos: Somos o Homem.

(2002)