Convergências entre fábulas, obras ficcionais e a atitude filosófica
A atitude filosófica implica na reflexão crítica sobre nós mesmos e os valores vigentes, também sobre a postura adotada diante às circunstâncias, refere-se ainda à investigação sobre o estar no mundo perseguindo a busca de entendimento da alma humana. A Filosofia antecedeu a Psicologia e foi além, contribui para a criação de novos conceitos e favoreceu e favorece uma releitura do universo que habitamos e nos habita desta forma promove mudanças consideráveis naquele que a esta dedica-se . A filosofia não tem um compromisso com uma verdade mas com os por quês. Trabalha com o desconhecido uma vez que entende
o quão pouco sabemos sobre a condição humana distinta das demais criaturas , pelo fato de possuirmos a capacidade de pensar, sonhar, planejar e mudar o meio em que vivemos além de sabermos da finitude do nosso estar no mundo sendo motivo de angústias fundamentais. Questiona nossas origens e destinos Prováveis e improváveis; onde viemos para onde iremos ou o que virá depois se houver algo que sevsuceda após o último suspiro.
Animais , não racionais não possuem pré ocupações, não têm urgências à fora a não ser os basicos de sobrevivencia, existem e simplesmente sucumbem às fatalidades.
A atitude filosófica influenciou e influencia escritores, poetas, psicólogos,
dramaturgos, entre os quais há excelentes contadores, criadores de estórias, ficcionais e fábulas , estas que convidam à reflexões sobre ética, moral, estéticas, assuntos pertinentes à filosofia. A sétima arte é relevante ferramenta no favorecimento ao pensamento dito filosófico ou seja faz pensar, levantando questões adormecidas pelas demandas, muitas vezes executadas maquinicamente, ou seja sem reflexão. Também somos ainda muito reativos o que difere de sermos eficazes e ativos.
Existe na criança um adulto assim como um aspecto, no bom sentido, infantil nos adultos e é responsavel pela curiosidade parte da mente ávida em conhecer e questionar, aberta à aprendizagem. Quão afável é aprender ludicamente, ouvindo e contando estórias ! As crianças adoram que se repita inúmeras vezes o mesmo conteúdo para irem paulatinamente assimilando os personagens e formando sua subjetividade. Talvez, a nós adultos também seja útil o hábito de reler e, por que não reler as Fábulas? Estas que como os Mitos e as Parábolas remetem à flexões, questionamentos pertinrntes pois humanas e, vividas no cotidiano.
Quem pode esquecer das Fábulas de La Fontaine que visavam instruir os homens utilizando-se de personagens do reino animal. Este poeta francês, por volta de 1670 veio tornar-se mundialmente conhecido pela releitura das Fábulas de Esopo - grego que viveu na Grécia no séc VI a C e Fedro - Romano século I d. C . La Fontaine inicialmente transformou as fábulas em poemas e após vindo a compor as suas próprias. Existem fábulas lindas de origem hindu, chinesa, ou seja, narrativas que utilizam animais e plantas para reflexões morais, éticas que nos ajudam a conviver em sociedade.
Nosso espetacular Nelson Rodrigues salientou a importância de releituras. Hábito que natural assimilei. Costumo inclusive reler-me diversas vezes numa atitude investigativa, reconhecendo-me e acolhendo meus próprios enigmas, passando-me a limpo e desvendando não ditos, gagueiras e os selos ocultos. Como parte da natureza que gosta de se esconder, citando o pré-socrático Heráclito, também escondemo-nos de nós mesmos. A busca de nossa essência existencial leva-nos a desvendamos sombras, restos de nosso inconsciente, ocultos sob o expresso, nas entre linhas confessamos, o inconfessável, esporadicamente.
Gostamos demasiadamente de iludirmo-nos e aos outros. A cada leitura uma nova descoberta, um novo momento, como o rio que jamais é o mesmo, retornando ao pensamento de Heráclito, os textos e os homem estão em constante transformação, em conformidade como o momento vivido sentenças chamam mais ou menos atenção. Raramente nada acrescentam, mas sempre é válida a leitura um excelente exercício da musculatura ocular. Ou seja idêntico o hábito de freqüentar academia de físiocultura para fortalecer os músculos que não deve desprezar o alongamento destes, essencial à saúde e ao vigor.
A literatura dita, infanto-juvenil, é muito rica em conceitos e questões existencialistas que remetem aos conceitos e temas filosóficos. Um exemplo é o filósofo mirim, personagem de "O Pequeno Príncipe" de Antoine de Saint-Exupéry´. Entre seus leitores estão célebres filósofos Martin Heidegger* e J. P. Sartre**
O binômio Ler-Escrever é próprio dos amantes da privacidade povoada. Há um traço em comum entre leitor e escritor, entre artistas, cientistas, filósofos construtores de subjetividade que passam a influenciar o mundo objetivo. tratando-se do distanciamento que areja e contribui na amplitude dos ritmos respiratórios, nas transpirações e inspirações. Pausas, espaços para que possamos alçar os próprios vôos imaginários e mergulhos introspectivos.
Jean-Michel Quinidoz, Psicanalista francês, autor da importante obra, A Solidão Domesticada - a angústia de separação em psicanálise , Ed.Artes Médicas, perfaz o caminho do aviador solitário e seu encontro com O Pequeno Principezinho de Saint-Exupéry . -“ O que quer dizer Cativar ?”
- “ È uma coisa muito esquecida , diz a raposa. Significa “ criar laços “
– “ Criar Laços ? “ Assim já na dedicatória o autor introduz o tema e nos seduz à leitura nada leve sobre a angústia da separação. E, por falar em angústia a releitura das obras de Kierkegaard é uma boa pedida nestes tempos de esvaziamento espiritual d intelectual, esta que é uma necessidade humana consoante a pesquisa e trabalho do Psicólogo A Maslow, em sua Pirâmide das Necessidades.
Lamentável que Saint-Exupéry já não seja tão recomendado e procurado, subtituído por filmes com linguagem tecnológica. Este escritor que a tantos influenciou- aviador passou por solo brasileiro, deixando pegadas nas areias de Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina
Mas estas são outras histórias que remetem à outras releituras fenomenológicas.
Parafreseando a raposa ao despedir-se do principezinho “ por causa da cor do trigo” direi eu- foi por causa da cor e do som d´oceano !
Notas
* - “Não é um livro para crianças, é a mensagem de um grande poeta que alivia qualquer solidão e pelo qual somos levados à compreensão dos grandes mistérios do mundo. Foi um dos livros preferidos do professor Martin Heidegger”
**“Contra o subjetivismo e a quietude de nossos predecessores, ele soube desenhar os grandes traços de uma literatura do trabalho e da ferramenta” Jean-Paul Sartre.
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20 agosto 011 -
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