Verdade... Talvez...



Meu tempero cético faz-me cada vez mais perceber que a verdade, apesar de crê-la em essência como algo absoluto, no nível que me é possível percebê-la ou interpretá-la, ela é sempre relativa, quer seja no escopo temporal, geográfico, cultural, ou mesmo focada localmente sua valoração de verdade é relativa a capacidade individual de compreendê-la.
 
Cada povo, cada cultura, cada ser humano em última análise tem a sua verdade.
É claro que não falo de verdades lógicas, matemáticas que são precisas, falo de interpretações mentais de realidades ainda não formalmente comprovadas ou rejeitadas.
Minha mãe repetia: Cada cabeça uma sentença. E ela sem saber estava sendo também relativista.
 
O problema para uma sociedade não laica, não secular em sua matriz ideológica, é que o relativismo tende a longo prazo a prover motivos que justifiquem o ceticismo, e este pode levar a um estado ateu ou no mínimo agnóstico, o que não é desejado por uma sociedade que esta atrelada firmemente a algum nível de misticismo, ou crença em um deus ativo, onipresente, onisciente e onipotente.
 
No fundo, acredito que todos temos a percepção de que sempre estamos buscando a verdade maior em cada situação. Mas isto não é verdade. Todos estamos de algum modo sujeitos a preconceitos, alguns estão dominados a dogmatismos múltiplos. Só nos resta uma saída, ter a ousadia, a vontade e a coragem de criticar abertamente nossas posições, nossos conceitos, a todo instante frente a novas realidades que continuamente nos afetam direta ou indiretamente. Devemos ter a racionalidade de separar o que gostaríamos que fosse, do que realmente parece ser. Devemos evitar tomar nossos desejos por verdades.
 
Sinceramente, excetuando-se como dito as verdades lógicas, acredito que jamais estaremos aptos a conhecer toda a verdade, visto nossas limitações orgânicas, biológicas e mentais, e mesmo as limitações de nossos artefatos de pesquisa.
 
Mas e daí. Se não posso conhecer a verdade em sua essência total, posso, e devo, pelo menos construir uma rota em que a busca dela deve ser constante, mas sem me permitir o desespero de me afogar na profundeza de seu desconhecer. A sociedade sofre, não preciso conhecer a verdade em essência total para isto perceber. Tenho forças e capacidade para agir. Então falta-nos apenas decisão usada de nos lançar na reconstrução de nossa sociedade, politicamente, socialmente ou economicamente falando. Novos homens para um novo mundo. Se a verdade não nos é total, o parcial que podemos perceber deve nos guiar em busca de um mundo de justiça social e de dignidade humana para todos.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 14/08/2011
Código do texto: T3158785
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.