JANEIRO
Pega a agenda e abre em janeiro. Parece adequado rabiscar as páginas vazias. Reflete sobre a metáfora de preencher o vazio e desiste; não quer falar sobre isso. Encher-se de linhas com baboseiras existenciais é tudo que janeiro não precisa! Concorda.
Pára com os rabiscos e conversa sobre as novelas. Faz o social e sente-se bem. Bem? Não, sente-se, no máximo, confortável.
Abre e fecha o celular. Faz disso um ritual. Fantasia que o mundo existe ali dentro do aparelho e novamente desiste; um torpedo absurdo chega.
Confere e surpreende-se com um estranho desapontamento: a agenda é de fevereiro.
Desiste por fim.