Aos que feri;
Acorde agora todos aqueles que amaram intensamente, os que acreditaram em sonhos improváveis, os que deram mais de si do que receberam em troca, unam-se então como irmãos para celebrar a glória das ultimas esperanças, quando há amor como ouro, vendido aos lotes e partilhado em comunhão aos egocêntricos diários.
Sintam agora todos aqueles a quem entreguei tanto de mim, todos aqueles que deram tanto de si e que irremediavelmente recusei, aqueles que possivelmente feri, partilhemos a melancolia dos dias que se mostrarem cinza. Bem aventurado é aquele que enxergas na dor e no medo capacidades ilimitadas. Mas aos homens comuns como eu, que cresci sem querer brincando de ser feliz, cabe a simplicidade do sofrimento individual.
Embora longos sejam os dias em que me puni pelos pecados da mente, pelas falhas de caráter e medos aprendidos, há pouca redenção no arrependimento das palavras, o que fere é ter de dizer sinceramente “a escolha sempre foi minha”, a dor verdadeira é aceitar que muito e provavelmente quase todas as nossas dores são escolhas pessoais, não há culpados sem rosto, nem estranhos aceitáveis, há apenas você ditando a direção das suas escolhas.
A fé na vida e nas pessoas é o que resta a aqueles que possivelmente feri em meu caminho por aceitação pessoal, é o que me sobra também em retribuição, pois afinal, eu sempre estive perdido no abismo, entre o ser e o sentir.