Um sistema onde as injustiças....

Um sistema onde as injustiças não merecem serem extirpadas, mas perpetuadas. Um sistema de pessoas que afirmam que as coisas sempre foram assim e sempre serão, conclamam, em seguida, e muito perplexas, que aqui não se faz justiça, que justiça não há. Pactua-se, então, para que a justiça e a liberdade não deixem de serem máscaras que o sistema usa em épocas festivas de grande culto a sua hipocrisia e a sua decadência. Se, como dizem, pagamos um preço muito alto pela vida, é porque concordamos em torná-la cada dia mais inviável. Afinal de contas, desde que ela se tornou muito cara, o dinheiro continua sendo a única solução viável para torná-la possível, nem que para isso outras vidas se tornem desnecessárias. Encontramos-nos condenados pela inércia em bajular o mais cômodo, nem que o mais cômodo seja a injustiça que rege e estrutura a nossa realidade, já que as mazelas sociais não nos dizem respeito. A cidade, o Estado e o país podem mascarar o seu real desenvolvimento. Privilegia-se o abismo das injustiças. Poupa-se a vida para que o dinheiro renda cada vez mais, valha cada vez mais. Produzimos e consumimos em escala universal a miséria do homem ante o próprio homem, sacrificamos a vida em nome da própria vida. Conseguimos crucificar o homem na própria imagem de seu anseio pela busca sem fim de uma vida pútrida, na imagem da ganância. E nessa imagem invertida, construiu-se a idéia da vida que temos a realizar, indicando quais os caminhos a serem trilhados; E mesmo sabendo que no final da linha se encontra um grande abismo, continuamos a seguir o rumo proposto. Pois bem, concretizemos uma história que não tenha mais como chave de seu entendimento as misérias, as injustiças, as corrupções, os luxos, as violências, as hierarquias. Que se tornem gazuas. Que se desfaçam! Que acabemos com elas!