Dois velórios
"Dona Tereza queira me perdoar, mas a senhora não precisa chorar! O falecido era meu amigo e eu lhe digo: 'tô aqui para lhe ajudar! Pois a senhora 'tá uma coroa muito boa e ainda pode se casar!"
"Mané você tem coragem de pensar bobagem numa hora dessa? Mané, foi um grande erro; depois do enterro a gente conversa..."
"Dona Tereza, 'tô arrependido... fui atrevido, queira me perdoar! Mas acontece que o meu coração 'tá com razão: a senhora é uma grande mulher! Por isso eu digo - que senhora goste ou que não goste! - a proposta vai ficar de pé."
"Tá certo, Mané, eu sei, mas fica feio responder agora. Talvez, Mané... talvez, lá pro fim do mês a gente namora..."
(Este diálogo é a letra da música 'Dona Tereza', de autoria de Elias Soares, um forró com batida à la Jackson do Pandeiro - portanto, com molejo e bem dançante. Eu era jovem quando ouvi esta música pela primeira vez; a idade mudou - e muito! - mas o divertimento é o mesmo, sempre que a ouço e danço. Há certo tempo fui a um velório e o viúvo - relativamente bem apessoado e 'bem de vida' - encontrava-se cercado de senhoras mais que dispostas a consolá-lo, sem o custo de esperar que a defunta começasse a ser húmus. Vida e arte deveriam se complementar; no caso, quando é arte a gente ri, quando é vida real dá para se indignar.)