Sonho mórbido
Nuvens negras se sobrepõem em meu céu
É mais um dia cinza
Acredito que seja o melhor pra mim
Então as deixo brincarem
Ouço cada pingo que lentamente começa a cair
A chuva vem lavar o sal do meu rosto
O vento sopra forte para me deixar fria
O temporal começa logo após a ventania
(...)
Deitada aqui com coração trancado
Minhas pálpebras pesadas
A lentidão dos pensamentos
E a morbidez do corpo
(...)
A inundação está feita
Então pego meu barco de papel para navegar
Estou indo numa viajem sem volta
(...)
O corpo vazio mas tão cheio de culpa
A dor é insuficiente para machucar
(...)
Na insegurança do meu barco
Eu caio
Você não me ouve chamar
Você não me vê
Nem ao menos me sente te puxar
Eu me afogo
(...)
Rapidamente como o despertar de um sonho
Sinto minha alma que agora se esvai
(...)
Agora vejo o corpo que você possuiu
O corpo que era meu
E me assusto..
Cada detalhe de imperfeição
Milimetricamente perfeito
(...)
Todo o jeito como se mistura
Uma confusão de cenas agora
(...)
Procuro um brilho
O brilho que só há em seus olhos
Olhos que arrepiam minha pele ao me encarar
Procuro o gosto doce
Doçura que só há em seus lábios
Lábios estes que me fazem delirar
Procuro a força
Força que existe em seus braços
Braços que me trouxeram segurança
Abraço seu corpo que o sol agora reflete
Reflexo sobre toda a água que ficou lá em baixo
A inundação gentilmente secará com o calor
Pois já não estou presente
(...)
Vagar pelas sombras frias eu escolho
Devo partir, está tarde
Deixo seu reflexo
E me despeço do nada que sobrou.