Retrato de Uma Alma Sofrida
Já se passaram dez anos desde que escrevi este texto. Pediram-me que falasse sobre a Alma Sofrida... falei, em primeira pessoa, penetrando tantas almas padecidas de sofrimento.
Um dia, sem que houvesse motivo lógico, preferi acreditar que fosse mentira. Mas, como a mentira não fazia parte de nossa vida, chorei amargamente estando frente a frente com ela. Tudo era muito inconstante, indo e vindo, me deixando aturdido... só de pensar dá vontade correr e gritar sem rumo , como um barco sem o leme, perdido em meio à fúria do alto-mar. Era assim que eu me sentia, e tudo parece que não acabou, parece ser um único momento, aquele momento, que ainda não acabou, simplesmente romperam-se dias, meses e anos como se fosse ainda aquele momento, o mesmo instante, sem o nascente ou o poente, tudo é ainda, como que congelado num único instante, talvez o pior deles, se é que existiram outros após este, que ainda o sinto remoer minha alma numa solidão sofrida como se fosse hoje.
Envolvido pela melancolia, me assaltam as lágrimas, que me banham a face sofrida e atormentada pelo sofrimento que o coração insiste em gritar, grito que soa forte e ribomba em expressões de profundo desgosto e descontentamento dessa imensidão a que fui submetido.
Quantos anos já se passaram, e eu aqui sofrendo por causa dela: a Realidade. Se me faço forte, sou forte para olhá-la de frente, e aí me torno fraco, fraco por reconhecer minha fraqueza perante a imponência dela. Forte ou fraco, não importa, ela me assombra, como um fantasma que não posso deter, pois é enorme. E eu, pequeno.