Buraquinho

Sei que depois de fazer toda essa curva, a linha fica reta acima do Metrô Vila Mariana. Eles seguem no sentido que creio ser o Leste; logo, me imaginando de braços abertos acima da minha casa (braço direito para o leste), presumo que o destino deles seja o Rio de Janeiro.

Sei que aquele vaso deve pesar cerca de setenta quilos e não deveria estar num beiralzinho desses. Talvez seja por isso que eu sou um loser que não pode ter um apartamento. Porque se eu ter um apartamento com um vaso desses, do jeito que acordo todo dia, serei capaz de amarrá-lo a uma corda, jogá-la até o meio da rua, descer as escadas correndo e enfim puxar a corda e deixá-lo esmagar meu crânio. Ou então, do jeito que eu chego em casa depois de um dia desses aí cheio de contratempos alheios que tomam meu tempo, sou capaz de empurrar o vaso na cabeça de alguém e ser preso.

Sei que eu sou mesmo alguém que deve ter sofrido algum trauma na infância - na falta de desculpa esfarrapada melhor - que tem uma idéia genial na cabeça - com todos os esquemas traçados e as respostas prontas - e que em vez de procurar fermentar tal idéia e passá-la adiante fico ponderando sobre o destino dos aviões que saem do Congonhas e do vaso do apartamento daquela ruiva patricinha deliciosa e me preocupando com os erros ortográficos de gente que sem fazer esforço algum tem tudo que eu preciso dar até a medula pra quiçá conseguir.

I'm a asshole.

E porque também não é "se eu ter", é "se eu tiver".

25/07/2011 - 26/07/2011

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 26/07/2011
Reeditado em 26/07/2011
Código do texto: T3121001
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