*** NÃO HÁ POESIA NA MORTE***
Pai...
Não há poesia na morte... Há sim, mil perguntas sem respostas...
Há egoísmo por toda volta, sejam de saudades antecipadas, sejam pelas duvidas, que agora duelam com a razão, sobre quem ira descansar agora...
Na morte não há poesia, pai...
Como poderia eu pensar em poesia ao ver quem se ama indo embora, deixando-me aqui seus pertences, mas em troca, leva consigo uma parte de minha própria história.
Não... Não há poesia na morte.
E agora? Quem iria compor poesia da sua própria incompetência, da sua insignificância diante do universo.
Não pai... Não me venha dizer que pode haver poesia na morte.
Que poesia pode haver em dar de cara com o nosso próprio final de história, antes mesmo de escrevê-la...
A poesia nessa hora se esconde atrás dos conceitos que já foram para ti, meu pai, tão importantes e que hoje já não tem mais nenhum valor... Não para você, pois percebi que os deixaste aqui para mim, todos embalados para presente.
Não me venha com lirismo agora, pai, não vais conseguir me convencer que há poesia na morte... Entretanto todos nesse momento, até os mais descrentes, se agarram feitos gatos doentes, caindo do telhado, em sua tendência na fé de um ente supremo, seja ela qual for, desde que acalente sua dor.
Não há poesia na morte... Não há graça nisso, pai!
Ainda que façamos tudo diferente. Ainda que percorramos os mais diversos contundentes caminhos, ainda assim, a melodia no ar, será Elis Regina cantando Como nossos pais!
Com todo respeito, pai... Não há poesia na morte...
Ainda que tenha havido poesia em sua existência, agora à hora é de lamento. O silêncio é a única resposta que tenho de ti agora, então grito: - Não há poesia na morte...
Como compor poesia, quando tanto amor abraça a dor, provocando um estranho sentimento. Como pensar que pode haver poesia na morte, se as lagrimas que derramo agora, adubam flores que outrora enfeitavam a vida, agora coroam uma batalha perdida...
Perdida para o antônimo de uma vida inteira vivida em buscas de valores que hoje não confortam a dor da despedida. Não meus amigos, não há poesia na morte.
Mas há sim apenas uma certeza nada poética, que nesse instante levanta sua bandeira: - Você pode fazer sua história totalmente divergente, mas sabes que o fim nunca será diferente.
Sem controvérsias... Não há poesia na morte. Mas há muita poesia na vida de quem se foi agora...
No contexto da história de quem a morte levou, há muita poesia e nessa não poderia ser diferente, pois antes de ir embora, ele de próprio punho escreveu toda trama e a poesia nela contida, basta olhar em volta, quantos personagens coadjuvantes desse legado poético e tantos outros que mesmo ausentes, estão aqui agora presentes, chorando por sua partida.
Para alguns atores desse enredo, ele foi apenas mais um, para outros, ele foi o fio de “urdume” que deu o plumo necessário para tudo que são agora.
Por isso vou continuar a redigir minha própria história para deixar aqui registrado, com todos os seus acertos e seus erros, a mais linda das “minhas” poesias, a poesia que foi fazer parte de sua história, pai.
Fattoconsumado
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13/07/2011
Obs: Escrito em respeito à dor de minha mais nova amiga, mas já muito querida, Maria Augusta Maciel, meus sentimentos à família.