Nove Minutos

Isso é tudo que eu sei fazer com papel e caneta: desenhar ciclones. Faço riscos grandes e vou descendo e filigranando-os até ter uma pontinha que acaba no branco. No olho do ciclone: que há no olho do ciclone? Que acontecimento geológico, climático e espacial faz com que meus traços se resumam a um cone rabiscado? A um ciclone chamuscado?

*

Era uma vez uma folha branca diante de um escritor. Uma folha branca e filha da putamente imaculada. Era uma vez uma folha branca pendurada na parede do banheiro. Era uma vez um escritor que se olhava no espelho.

*

Este aquário cheinho d’água

Até a boca

Está vazio

Demais.

*

Conforto do comandante diante da tempestade

Conforto do manuseio do leme que não volta

Toda noite um vôo na neblina

Com pouso de emergência

Bem sucedido.

*

Ali tem uma criança andando rente aos portões com uma ripa de madeira vinda de um caixote de feira; descalço malandro ardiloso, segue fazendo o som que nunca mais fará; segue a criança sem saber que aquilo não mais acontecerá.

18/07/2011 - 15h12m às 15h21m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 18/07/2011
Reeditado em 18/07/2011
Código do texto: T3103204
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