Na contra-mão.

É preciso mais do que coragem para me embrenhar nesses seus olhos, que há tanto perderam as ilusões de um dia menos frio. Eu, pelo contrário, não desejo calor algum. Me acostumei com o frio - da minha alma - que externa em forma de ventania devastadora (os leigos dizem ser fenômenos climáticos incontroláveis). Mal sabem eles que você controlaria. Já usei até aquecedor elétrico, que só me fez crer menos nos avanços tecnológicos. Nada ameniza meus sentimentos imperfeitos. O dolorido que me faz bem, a felicidade que me faz mal, a embriaguez que me deixa lúcida. Tudo está ao contrário, me perdi na rua certa e me encontrei na contra-mão. Quantas falsas propagandas, quanto falso romantismo. Certo que, caso fosse comigo essa ladainha de "meu amor", estaria cantando aos quatro ventos e conversando com os passarinhos. Mas os passarinhos fugiram para longe do ninho que com tanta devoção eu fiz, a minha árvore de vida pegou fogo. E eu acendia o fogo no cigarro para lhe esquecer, para me aquecer. Acabava me matando. Mas qual diferença iria fazer, se você me matou ao sorrir? Para outra.

Jéssica Valim Amâncio
Enviado por Jéssica Valim Amâncio em 17/07/2011
Reeditado em 17/07/2011
Código do texto: T3100623
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