Luneta do Cotidiano: Universo humano.

Olá, meus leitores fiéis. Sei que estou uma vergonha como colunista, mas sabe como é, inspiração não é uma coisa voluntária... Ela tem vida própria! Mas enfim, vamos ao assunto de hoje? Que tal se falarmos mais detalhadamente sobre quem somos no nosso universo íntimo?

Vai ser interessante. Mas o que realmente é um universo íntimo?

Um universo íntimo é aquele em que só você tem acesso. Ali se concentram suas mentiras, verdades mais dolorosas, lembranças embaraçosas, fraquezas e tudo o que te compõe mas ninguém sabe. Aquelas coisas que você não conta nem pro travesseiro, sua verdadeira opinião sobre as coisas, tudo aquilo que você deixa de dizer, sabe? Pois é, isso é um universo íntimo. Ele é tão parte de nós que nem pensamos a respeito, e na maioria dos casos, nem nos damos conta de sua existência. Mas na verdade, por que ele existe?

Infelizmente, vivemos no mundo onde vale a lei do mais forte e a exposição de quem você realmente é te deixa sujeito à julgamentos e criticas, ou seja, será usado contra você. O universo íntimo é um mecanismo de defesa, um escape, alguém dentro de você, um amigo para o qual você não precisa mentir. Ele tem como seus principais objetivos preservar seu eu verdadeiro, seu ego, seus interesses, e para tanto ele te permite criar um 'eu fictício', um alter-ego, que você pode moldar à vontade de acordo com as pessoas ao seu redor e as situações da vida. E é por isso que expomos nosso eu fictício ao invés de nós mesmos, na esperança de que as farpas alheias machuquem quem inventamos ser e não nós mesmos. Um alter-ego é muito útil para esconder medos, pre-conceitos, as coisas que você sabe que não serão bem aceitas pelos outros. Você não vai se importar que te chamem de estupido se você quis realmente que pensassem isso. É desesperador quando começamos a reparar no quanto nos esforçamos para que o mundo não saiba quem somos... Fazemos de tudo para nos encaixar em um mundo de pessoas diferentes. Somos parecidos em muitas coisas, mas em outras muitas fingimos igualdade. Procuramos ser aceitos o tempo todo pelo maior numero possível de pessoas sem perceber que o que elas aceitam é o que fingimos ser, e não nós mesmos.

Seus sorrisos que são lágrimas, suas palavras que são silêncio... Seu universo íntimo sabe e rege tudo isso. Aquilo que você mostra não é o que você é. Seu universo íntimo é o guardião do seu verdadeiro eu. E é aí que entramos no 'piloto automático'. Deixamos nas mãos do alter-ego o que mostramos ser, e ele faz o que mais lhe apraz, enquanto batemos um papo com o universo íntimo.

- Gostou da minha roupa nova?

(Alter-ego) - Uau, que linda. Onde você comprou?

(Universo íntimo) - Nossa... Mais ridícula impossível! Como ela tem coragem de sair com isso na rua?

E assim damos continuidade à vida. Mentindo, evitando a nós mesmos...

O pior é que ninguém nunca terá acesso ao seu universo íntimo, talvez uma porção dele, mas nada mais que isso. Isso é o que nos preserva. Mas infelizmente, é o que preserva a mentira nossa de cada dia, relacionamentos quebrados, religiões sem sentido nem fé, o maldito comodismo... O alter-ego se acomoda naquilo, com aquela companhia, com aqueles rituais corriqueiros, e a vida vai se tornando cada vez mais vazia. E é aí que nos escondemos do mundo, da vida e isso nos priva da melhor parte dela: a verdadeira liberdade.

Kari Vilela
Enviado por Kari Vilela em 16/07/2011
Reeditado em 16/07/2011
Código do texto: T3098161