“EU DESDEACHO O CAMINHO” / “O ABORTO DO TRAGO”
“EU DESDEACHO O CAMINHO”
Escolho o que me permito
Me permito pesquisar os planos
Os planos deixam rasos o culto
O culto concebe-me a fome
A fome me leva profundo
Cascalho de idéias colho
Difícil saciar a mente
Encontro-me em ligeira crise
Que passa aos meus olhos insanos
Pois busco o que me surpreende
Encontro de tudo um pouco
Cores e traços avulsos
Compostos e salas pequenas
Faces, natureza morta
Objetos decompondo cenas
Rascunhos de nova época
Saboreiam-me a decisão a tomar
Que teima em me persuadir
Querendo me adaptar
Ao que componho com voracidade
Ligando ligeiramente ao que sinto
O mergulho deve ser profundo
A resposta deve ter sentido
Sentido do ato de sentir
Por isso por poucas cores optei
Sou moldura da obra que vi
Pela simplicidade sua apaixonei
Verdade deve ser falada
Objetos me geram fobia
A vida regozija o mundo
Mais ainda quando livre
Externa a paredes e painéis
Contaminada pela sensação do vento
Regulando a paisagem e o tempo
Conexa a construção humana
Gene na evolução ativa
Atingindo o espaço vazio
Através da liberdade exercida
Adquirida, pensada, competitiva
Extasiada, trabalhada, corrompida
Cada caso gerou um tempo
Cada quadro uma alucinação
Cada ensaiar dos olhos um trauma
Cada trauma tem seu dom
Mesmo que bom ou ruim
Desejo desembaralhar
“Paysage Meudon”
“O ABORTO DO TRAGO”
Ver é estar doente dos olhos
Quiçá entender o todo vendo plano
Por isso o desmembrar é importante
Cria-se vários ângulos
Semicírculos, retângulos, triângulos.
“Paysage Meudon” se traduz nas formas
Se enxuga na textura e cor
Realiza-se no peso e volume
O primeiro precipitando a cena
Ao me enviar logo as casas
Configurando minha visão a direita
Aliviando-a no descansar do riacho
Que me informa uma ponte e seus arcos
E quando sigo a perspectiva das águas
A sensação de poder esvazia-se
Me revelando um sol delirante
(longe, complacente, calmo)
Que me desperta no momento oportuno
O impacto dos prismas nas árvores
A da esquerda enreda-se no meio
De uma urbanidade focada
A da direita caminha sozinha
Ínsita a mente a entrada
Como se guardasse a cidade
Semeada ao lado da estrada
Cujo ponto de fuga ao findar
Leio uma curva adentro
Levando o andarilho ao ventre
Da mãe que não lhe pariu
No entanto a ideologia de pouco tempo
Se corrompe na sensação de adoção
Pode haver o mundo todo pela frente
Mas a idade regenera essa questão
Na cabeça de Glaizes poderia se passar
Que por muitas vezes Van Gogh se pusera a andar
Creio ser feliz a comparação
Avistando o chapéu, a bolsa e um ser em procissão
Ato da primeira parte
A volumetria se divide em quatro delas
A segunda desnuda-se nas casas
O riacho gera a terceira
Com a simplicidade cadenciada aos fatos
O olhar se consagra no quarto momento
O horizonte que choca pela distancia
No cubismo tão perto e tão longe
Formas que emocionam e exprimem
Como a poesia que sufoca. Como querendo sair
Como querendo viver. Como querendo se cadenciar
Como querendo se corromper!