Somos, todos os humanos...



Somos, todos os humanos...
Calma lá! Como assim?
 
Parece-me ser um início de texto incoerente por sua natureza.
“Somos” implica obrigatoriamente em que eu participe deste subconjunto de pessoas.
“Somos, todos os humanos...” passa naturalmente uma idéia macro de toda a população.
 
Até agora nada demais.  
 
O problema é que na verdade somos da espécie Homo Sapiens (quanta presunção nesta nomeação). Humano significaria algo como: Relativo ou próprio do homem a Natureza Humana. Aquilo que demonstra bondade, compaixão e indulgencia para com o próximo. Humanidade seria algo como a qualidade ou a condição de humano.
 
Ser humano significaria ser diferenciado dos demais animais por seus atributos de humanidade.
 
Será que eu ou a maioria da população pode realmente ser definida como seres viventes que realizam, experimentam em totalidade, ou praticam humanidade, aquilo que nos diferencia e nos colocaria em um nicho específico de existência?
 
Aleatoriamente perguntei a conhecidos o que diferenciaria nossa humanidade. Ouvi várias respostas, mas de uma forma geral versavam sobre atributos tais como: Saber amar, ser justo, ser bondoso, ser socialmente equilibrado, amar a todos, não ser avarento nem invejoso e muito menos presunçoso, ser ético (definamos isto como quisermos), ser verdadeiro, ser honesto e etc.
 
Caso viver a humanidade que nos diferencia for realizar os atributos de viver acima, está mais do que provado que não posso começar texto algum com: “Nós, todos os humanos...”
 
Iniciando pela minha pessoa, apesar de buscar realizar minha humanidade, estou longe de ser alguém que realiza ativamente, constantemente e, o mais difícil, continuamente aqueles mesmos atributos que definiriam nossa humanidade. É claro que eu os realizo em algum momento, mas jamais de modo contínuo e contumaz.
 
Sob o risco de ser exagerado ou impreciso e mesmo desleal para com os demais, entendo que todos os irmãos em espécie, ou pelo menos em sua maioria, estão longe de realizar esta mesma humanidade de forma completa. Tenho a certeza que muitos tentam, mas poucos são verdadeiramente capazes de a realizar por inteiro.
 
Se não for assim, ou eu estou louco, ou simplesmente desfocado em minha observação do mundo em que vivemos.
 
Não é necessário muito esforço, tanto localmente quanto remotamente, para que percebamos uma imensidão de pessoas totalmente abandonadas social e humanamente. Isto, por si só, basta para provar nosso abandono das causas sociais, nossa omissão como seres humanos e nossa falácia quanto a amar a todos igualmente.
 
Facilmente percebo as segregações culturais, religiosas, econômicas e outras. Percebo que amar a todos, no máximo se limita a amar a todos que são do nosso mesmo grupo, aos outros basta o azar da vida.
 
Como podemos falar de igualdade de oportunidades, isto sem falar que é uma piada de mau gosto acreditar em igualdade de educação, saúde, segurança, alimentação, lazer, cultura e higiene, sem falar em postos de serviços.
 
Prefiro ir parando por aqui. Creio assim que somente poderia iniciar um texto com “Nós, todos os humanos...” quando desejo passar a falaciosa idéia de que realizamos nossa humanidade, ou como força de expressão, sem maiores sentidos intrínsecos ou extrínsecos.


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 06/07/2011
Código do texto: T3079573
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