Henri Matisse. (French, 1869-1954). Dance (I). Paris,Biron, early 1909. 
Oil on Canvas, 259,7 x 390,1cm
MoMa. The Modern Museum of Art, New York, USA
                                                   

            


           
                              (...a humanismo & transcendência, frente e versos  de um poema,   que a voz de Otávio Paz  ecoa:...  sou humano, duro pouco e é enorme a noite. Porém, olho para cima, as estrelas escrevem. Sem entender, compreendo, também sou escritura , e neste mesmo instante alguém me soletra...)




     "..... a Arte, tanto quanto a sabedoria e o conhecimento do Oriente e do Ocidente, dá testemunho de que existe uma unidade profundamente arraigada sob as aparentes diferenças do mundo...
      ....durante a Idade Média, homens dedicados à religião discutiam sobre o número de anjos que podiam dançar na ponta de uma espada. Hoje, com o auxílio do microscópio de íons, vemos nas fotos de padrões atômicos, que não apenas uns poucos anjos mas todo um universo poderia dançar na ponta de uma agulha!....
.....padrões de totalidade foram criados ao longo das eras...dando forma tangível à ordem intangível que une as diferenças desse mundo... o Oriente desenvolvou padrões que no sânscrito são chamados de "mandalas" para propiciar a meditação  e a devoção..
...poetas, por vezes, também escolhiam padrões de mandala para exprimir a totalidade humana,  a agonia de não tê-la alcançado e a luta para obtê-la...
....em  A Divina Comédia escrita no começo do século XIII, Dante Alighieri procurou representar uma jornada dos padrões do destino humano, de acordo com os conceitos do cristianismo medieval...
....as três partes do poema Inferno, Purgatório e Paraíso foram concebidas na forma de imensas mandalas...
....o Inferno,na descrição de Dante, é um imenso poço afunilado, como a cratera de um vulcão, através do qual o poeta faz sua descida guiado pelo poeta latino Virgílio, seu predecessor...
....eles caminham em círculos cada vez mais estreitos e profundos....no fundo do poço, precisamente no nono círculo, congelados no lago do desamor estão os que traíram e negaram os laços de amor e compaixão...
....o Purgatório é o inverso do poço do Inferno, ou seja,uma montanha na forma de uma gigantesca pinha - cuja planta-baixa também se parece com uma mandala - onde os poetas ascendem com grandes dificuldades... no topo do Monte Purgatório ascende ao paraíso guiado por Beatriz... sendo este uma visão perfeita da harmonia, abrindo-se pelos céus como uma imensa rosa....
....uma versão moderna dessa mandala medieval é Song of the Cosmos, escrita pelo poeta  húngaro Áttila Jozset (1905-1937)....
...é também uma jornada exterior que reflete a interior: uma viagem ao mundo moderno, um mundo que ainda carece da totalidade humana compartilhada...
....é a viagem de um planeta solitário em órbita no espaço gelado, "!fustigado pelos ventos do vazio"...
....a versificação integra tudo com o padrão da totalidade, segundo as regras do Sonetti Corona da  Renascença italiana...
....Song of Cosmos consiste de quatorze sonetos...o último verso de cada um deles é igual ao primeiro do soneto que vem e o último verso do último soneto é exatamente o primeiro verso do primeiro soneto. ...finalmente, todos esses primeiros e últimos versos compõe o Master Sonnet, o principal, que exprime de forma sintética a mensagem dos quatorze sonetos... 
....uma espécie de circuito  elétrico de energia é gerado por essa dinergia: a estrutura firmemente ordenada e a liberdade de diferentes imagens de angústia...
....a antiga sabedoria hebraica da Cabala diz que somos seres fracionados, vivendo em um mundo também fracionado...
...as proporções são limitações compartilhadas...
...quando dois seixos, um perto do outro, são atirados à água, criam ondas de padrões circulares que, ao se juntarem, formam elipses que se vão ampliando até que ....
....tornam-se círculos ...enquanto isso os primeiros círculos se estão transformando, de círculos fechados com o centro em si mesmos, eles crescem formando arcos parabólicos, que vão além de si mesmos, na busca do infinito...
...seria isso apenas um padrão de seixos, de vibrações, ou também uma metáfora para o amor, para o poder dos limites compartilhados e o próprio ato criador?!..."


NOTA
cf  Doczi,György, in O Poder dos Limites,Editora Mercuryo:SP,  pp133/4/5/6/7/8/9