Às vezes tudo o que a gente precisa é ser um pouco invisível.

Muito tempo sem me escrever. Muito tempo sem tempo, sem coragem de ser. Muito tempo tentando enganar e esquecer o tempo. Uma preguiiiça de pensar, de sentir, de me explicar, de me doer, de me doar. Às vezes tudo o que a gente precisa é ser um pouco invisível. E não fazer nada. Deixar que a cabeça, sozinha, encaixe seus pensamentos e resolva seus problemas. Que são nossos também, mas que a gente não tem a menor disposição de resolvê-los e reorganizá-los. Dar sentido a tudo é um trabalho cansativo. E há um certo (des)gosto em deixar tudo assim. Conformar-se. Ou fingir-se conformado. Até que as coisas resolvam que é hora de mudar.

Eu sei lá do que eu tô falando. Eu tô falando é da minha impaciência. Dessa coisa louca que é brigar com as coisas que são porque não são do jeito que a gente quer. E adianta esmurrar ponta de faca? A gente chora, e grita, e berra, e faz birra, e se arrepende, e odeia, e ama, e sente saudade, e sofre, e manda pra PQP, e diz que nunca mais vai acontecer, e arruma cabelo, unha, maquiagem, faz dieta, faz aulas de dança. E fica uma carcaça perfeita. Cheia de vazio. Então a gente chora de novo, sofre de novo, faz toda a merda que jurou nunca mais fazer, e enche a cara, fala palavrão, ama todo mundo, e faz rapel esperando que a corda se rompa e que a gente se arrebente deixando uma marca bem bonita de sangue no chão. Um sangue em seu vermelho mais vivo.

E os dias se passam, e a vontade de não fazer nada vai aumentando, aumentando, ganha força e vida. E as coisas importantes se amontoam num canto qualquer da casa. E os olhos se fecham ao belo. E o coração gela, e se guarda, e... um dia a gente acorda nos braços da saudade, uma saudade mais doída, uma saudade da gente. Mas há o cansaço. Então, a gente deixa as coisas acontecerem e crescerem sozinhas. Às vezes tudo o que a gente precisa é ser um pouco invisível. E não fazer nada.