Brisa 29 (A Vida)

A vida sempre avança. Sempre se esvai. Como areia entre os dedos… Ora a sentimos avançar e girar rapidamente, num carrossel desenfreado, ora passar lentamente como um desfile de pierrôs em câmera lenta, o qual odiamos assistir; mas independente de como a sentimos andar, nossos corações continuam batendo no mesmo ritmo, sempre.

Não importa se as coisas estão acontecendo numa velocidade vertiginosa, novo emprego, nova rotina, roupas novas, pessoas novas, novos lugares. A vida acontecendo de forma intensa e você se sente envelhecer muito devagar, como se os anos à frente fossem infinitos, ou pelo menos, longos demais, o suficiente para você fazer tudo o que planeja. A areia corre lentamente dos seus dedos, enquanto você aproveita o dia maravilhoso de sol na praia, chupando picolé e olhando as moças passando. Mas, na verdade, o seu coração está batendo no mesmo ritmo, você só não percebe.

Da mesma forma, se as coisas estão estagnadas, rotina, mesmos rostos todos os dias, mesmos ônibus, caminhos, as mesmas tarefas todos os dias. A vida acontecendo devagar, se arrastando e você sente o tempo passar depressa, sente-se envelhecer dez semanas a cada hora que passa, como se restasse muito pouco tempo, e os poucos planos que você tem nunca vão se concretizar, já que logo você vai estar velho demais, acorrentado à rotina. A areia escorre rapidamente por entre os dedos, enquanto você tenta, inutilmente, apanhar mais areia e só acaba por perder mais depressa o pouco que resta em suas mãos. E, querendo ou não, temos que admitir, o coração está batendo da mesma forma, sempre. A culpa é nossa.

Todo dia tem potencial pra ser um dia bom. Pra ser um dia magnificamente especial. Todo dia tem suas particularidades, apesar da rotina, da mesmice. Aquele domingo lindo de sol, em que os raios amarelos do Astro Maior se contrastam com as pequenas folhas de Maria-sem-vergonha, pode se repetir na segunda-feira, mas estamos menos propensos a percebê-lo. Ah, se tivéssemos em mente que o coração não para de bater nunca, talvez aproveitássemos melhor os dias. Talvez apertássemos sempre com força a areia em nossas mãos, com toda a vontade de viver, pra aproveitar cada segundo e fazer cada dia valer a pena.

Se todos os dias acordássemos dispostos a dizer ‘eu te amo’ pra cada pessoa que faz a diferença em nossa vida, sem medo de parecer estranho, sem medo de ser mal interpretado. Se todos os dias disséssemos ‘bom dia’ pra todas as pessoas que cruzam o nosso caminho, talvez nos déssemos conta de que o coração bate não rápido demais, nem demasiado lento, mas que bate no tom certo, do jeito que é pra bater, e que a vida está aí, ora girando desenfreada, ora caminhando a passos lentos, mas está sempre aí, disposta a ser vivida como gosta de ser: bem vivida. E por que não tentar?

William G. Sampaio [20/06/11]

William G Gardel
Enviado por William G Gardel em 30/06/2011
Código do texto: T3066537
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