A Saudade Astral
Saudade, saudade, saudade!
Lembro-me vagarosamente de todo o transcorrido tempo que se foi em minha vida. Lembro-me de minha infância, lembro-me dos obstáculos superados, lembro-me de, praticamente, todos os acontecimentos que já vivi. Quanta saudade.
Em noites de lua cheia, com o céu estrelado, paro para refletir. Focalizo meus pensamentos nas alturas. Procuro localizar os astros, as constelações, as estrelas e o sol de todas as nossas noites, a lua.
Em ocasiões como esta, vejo o infinito, me sinto, vagarosamente, como se eu fosse Armstrong pisando pela primeira vez na lua. Chego a me sentir tão leve, que geralmente, percebo a gravidade próxima a zero em meu recôndito interior.
Elevo meu sentimento/pensamento, a outra esfera, muito diferente da terrestre. Sinto-me tão bem, realmente pareci que estou voltando ao passado.
Em um instante, focalizo meus olhares em alguma estrela e me remeto rapidamente a minha longínqua infância. Vejo-me brincando na areia, sendo o personagem principal para meus familiares, me sinto tão protegido. Ah, que saudade dos meus tempos de criança - quanta saudade.
Pouco tempo depois, paraliso e estagno meu pensamento na Ursa Maior, que astro lindo, que estrela deslumbrante. Imediatamente, me recordo da época em que comecei a procurar os porquês da vida, a época em que comecei a descobrir o que era a vida. Mas não por isso, deixo de lembrar, quando em um clube de campo, domado pelo instinto selvagem e pela pureza natural do ambiente, aprendi o que seria esta Ursa Maior.
Máquina de transição ao passado? Eu não preciso, apenas quero minha viajem recordatória que está escrita nas estrelas.
Continuando meu passeio, avisto o Cruzeiro do Sul, formado por suas quatro estrelas em formato de papagaio. Papagaio, pipas? Que tempo fantástico. Tempo em que meu instinto de menino, realmente era apenas um inocente instinto em formação. Brincava na rua, corria atrás de pipas, perdia-as, recuperava-as, que linda fase.
Reparando novamente, nesta estrelada madrugada, focalizo várias estrelinhas juntas e posteriormente algumas delas destacadas. Analogamente, volto as minhas raízes e vejo em meu passado todos os colegas, amigos, professores... Que até hoje tive. Não irei mentir, foram muitos, iguais a todas aquelas lindas estrelinhas juntas, todavia, os que guardo em meu coração são poucos, são apenas as mais cintilantes e brilhantes estrelas, como as que estão destacadas.
Nossa, até que enfim a encontrei, as Três Marias, que astro magnânimo. Três pequenos pontos brilhantes, simultaneamente possuindo o mesmo brilho, a mesma importância e o mesmo alinhamento. Por certo tempo, fico apenas olhando-a, mas não consigo não remetê-la e associá-la a meus pais, meus avôs e minha pequena família. Pontos estes, que em vida terrena, ao menos para mim, foram às chaves de minha existência, e a plenitude de meu presente.
O que é aquilo? Passa tão rápido pelo céu, olhe é uma estrela cadente! Rápido, farei meu desejo:
- Estrela cadente que ilumina minha juventude e meu caminho ao sol poente, sei que esta fase de minha passagem terrestre, está rapidamente findando-se em minha vida, da mesma maneira como você acabou de percorreu o infinito céu. Apenas lhe peço para que solicite a Deus, que ele guie, e trace com destreza, toda esta minha fase e o resto de minha breve história.
Infelizmente, gostaria de vê-la, mas ainda não foi dessa vez, ela já partiu em direção ao norte.
Não tendo como não notar, fico hipnotizado, com o singular brilho do luar. Sol da noite, clarão das trevas. Vejo neste momento, a fase mais difícil de minha vida, o momento em que Deus, tirou uma estrelinha de meu coração para colocá-la a exposição ao lado da lua.
Antigamente, olhava para dentro de minha alma e focalizava aquele radiante brilho, hoje, por motivos, senão fosse à saudade, faço estas viagens ao céu, com vistas a encontrar minha perfeita estrela lunática.
Nesta máquina do tempo em que me utilizo, faço valer de minha vida um filme tracejado no céu. Pois, como sou apenas um ser humano normal, não poderia guardar todas as minhas alegrias, infelicidades, nem todos os personagens co-autores de minha história em meu peito.
Para tanto, da penúltima vez em que vi uma estrela cadente, realizei o desejo de utilizar o céu, e seus respectivos astros, para que eu nunca se esquecesse de minhas lembranças, tendo-as guardadas em um lugar realmente seguro.
Todas as noites em que Deus vê que estou, de certa forma, infeliz, ele realiza a limpeza do céu e me chama para eu ver o filme de minha vida. Para que eu nunca me esqueça de quem realmente me amou e que eu nunca deixe de ver tudo o que eu já fiz. Mesmo, que na maioria das vezes eu não tenha realmente acertado.
Não obstante fosse isso, não tenho a imensidão noturna apenas como máquina viajante, tenho lá, o arauto de meus heróis e ainda um vasto terreno vazio, para que neste eu possa colocar, os lampejos de minhas futuras conquistas, e não só apenas, a saudade de minha história já escrita.