A triste história de Realengo.

Crianças por toda a parte, euforia, reações nervosas, ânimos exaltados, adrenalina exalando sob a pele de cada uma delas. Não, não é mais uma tarde em algum parque de diversões, nem pequenos seres humanos desesperados pela quebra de algum brinquedo no Play Center, é uma tarde em uma escola municipal de Realengo/RJ.

Realengo, cidade que até dias atrás, mínimos brasileiros, com exceção de poucos cariocas, conheciam, e que de um vultoso fato recentemente passado, ficou conhecida em proporcionalidade galáctica.

As crianças que acima citei, não exalavam adrenalina por estarem fomentando sua sede pelo brincar, ou fomentando seu aprendizado, exalavam a adrenalina amedrontada que qualquer Homo Sapiens exalaria naquele momento. Exalavam literalmente o medo que transparecia de suas almas.

Um fato pontual, relevante e extremamente triste, mudou o cotidiano carioca. Os tiros, as mortes, os feridos, a compaixão, o pensamento descontrolado, o herói.

Todos pensam que a violência nunca irá atingir nossa órbita. Apenas víamos horrorizados os similares massacres em países alheios, como o ocorrido em Columbine - EUA. Mas nunca imaginamos que um exemplo cruel desses, um dia pudesse chegar até nosso País. País este, que por mais corrupto e imbuído de trevas que seja, ficou estarrecido com o ato ilícito praticado.

A nostalgia ficou clara no ar. Pequenas crianças nos deixaram em uma horrível chacina. Mas quem somos nós para julgar ou entender o que ocorreu? Quem somos?

Este que vos escreve, já tentou, por inúmeras vezes, entender os vários porquês que englobam nosso mundo. Dentre estas indagações sub existentes em meu prospecto interior, já tentei compreender e entender o porquê deste jovem ter cometido estes assassinatos; O porquê da imensa destruição em terras asiáticas; O porquê da enorme intensidade da pluviosidade nas cidades cariocas e catarinenses; O porquê de tanto ceticismo religioso... E apenas logrei êxito em nada descobrir.

Estudei, pesquisei, conversei com evangélicos, agnósticos, católicos, enfim, e não me convenci de resposta alguma, apenas me convenci de uma alternativa, que Deus realmente existe.

Não me oponho aos ateus, muito por outro lado, respeito-os formalmente, como exijo que a recíproca seja verdadeira. Mas obtive a mera conclusão que todas as respostas para os meus porquês são relacionadas a uma Força Divina.

Quando em longínquos dias estudei história, matéria que todos aprendemos a caráter no ginasial e colegial. Lembro-me de ter aprendido que a maioria das respostas que os servos e/ou os vassalos recebiam, em um longo passado, de seus superiores, eram relacionadas a Deus. Recordo-me que para impor o medo em seus subordinados, os senhores feudais utilizavam o nome de Deus. Credo que, após a implantação do conceito antropológico no mundo, caiu em desuso.

Voltando ao presente, vejo que estes antigos bonachões, não estavam de todo errado. Atualmente, não consigo ver outra resposta para os meus porquês senão Deus.

Todo e qualquer ser humano, que ganha uma vida terrena, tenta ao longo dela, se encontrar. Se encontrar em todos os sentidos, achar a felicidade, obter sucesso profissional, encontrar seu perfeito par, enfim, se encontrar no mundo dos mortais.

Acredito que esse jovem, agente deste triste crime na cidade carioca, não conseguiu obter intento nesta missão. Acredito também, que estas crianças não tenham falecido, apenas tenham transpassado do plano terreno, para o plano boreal. E que certamente, neste momento, Nosso Mestre necessita delas a seu lado.

Não podemos pensar que certas coisas acontecem por um mero acaso, Nosso Chefe, certamente, tentou realizar obras positivas sob este supracitado desertor da lei, todavia o sucesso não fora logrado. Em contrapartida, Nosso Mestre, vendo a proporcionalidade da periculosidade que iria ter a repercussão dos fatos, elaborou alguma operação para que fossem salvos outras pessoas, que como este jovem de Realengo, ainda não se encontraram em nosso mundo. E para o sucesso desta missão recrutou essas crianças.

Como se não bastasse todo este mirabolante plano, Nosso Guia para certificar-se que o contingente de crianças recrutadas não seria aumentado inesperadamente, colocou um Policial no momento exato e no local correto, para que tudo ocorresse dentro de sua “normalidade”.

A tragédia deixou inúmeras pessoas, ao invés de eufóricas de alegria, eufóricas de tanta ansiedade e sofrimento. Deixou à decepção mundana nas pessoas, como a decepção obtida por uma pequena criança em não pode utilizar certo brinquedo no Play Center. Deixou Realengo contemplada pelo medo e o Brasil e o resto do mundo com uma sensação mista de estarrecimento e comoção.

Almejo que as pessoas parem de olhar o mundo com ódio, com sentimentos ruins, com sentimentos vingativos. Desejo que um dia, mesmo que você tenha que conviver em uma área de recente radiação - como a ocorrida pela explosão das usinas nucleares no Japão – Mesmo que você tenha que viver em meio a destroços e destruições – como as áreas atingidas pelas chuvas em Santa Catarina e Rio de Janeiro – mesmo que você tenha que conviver com uma terrível tragédia em sua vizinhança – como a ocorrida em Realengo – Que você eleve seu pensamento à sua crença, a seu credo, e agradeça por um dia ter ganho a vida, e por hoje, neste mundo tão louco, estar vivo.

Não se deixe levar pelas más pessoas, nem tenha raiva de qualquer uma delas, apenas faça sua parte e tente você se encontrar, para que sua passagem mundana seja feita da melhor forma disponível.

Quanto a estas pessoas desprovidas de adjetivos positivos, não as julgue. Não julgue este jovem que promoveu esta façanha em Realengo, nem os que foram os personagens principais do documentário ‘Tiros em Columbine’, de Michael Moore. Não julgue esta classe de Sapiens, pois o único ser que pode julgar a todos nós, é quem está, neste momento, ao lado das crianças assassinadas em Realengo.

Gabriel Gianinni
Enviado por Gabriel Gianinni em 25/06/2011
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