O doce amargo sabor
Já faz um bom tempo que vivo no meio artístico, entre poemas, músicas e peças teatrais. Adoro este mundo pois nele é possível criar, recriar, inventar e reiventar.
Tudo começou com um desejo .Primeiro chegou de mansinho o desejo de escrever e quando vi povoei mundos com pessoas imaginárias, criei vidas, juntei palavras e elas dançavam na minha frente transformando-se em poesia. Depois veio a vontade imensa de transportar os personagens para o “mundo real” dando vida a eles através de pessoas. Surgiram os textos teatrais , os grupos, as oficinas, os atores, as apresentações. E assim me vi interpretando e me apaixonando pelo teatro.
Conheci pessoas maravilhosas que me ensinaram muitas coisas. Algumas chegaram como quem não quer nada, somando, dividindo e multiplicando.
Porém analisando este meio artístico tenho me deparado com situações que por vezes me fazem querer desistir. Em primeiro lugar vejo a desvalorização do ator. Ator muitas vezes, só é considerado ator quando está na mídia. Texto só é considerado um bom texto se for de algum autor conhecido,porque os autores conhecidos e de preferência, os mortos é que são bons.
Vejo também a desunião em nossa própria classe são poucos os atores que vão em eventos de outros atores para prestigiar. Cada um vive no seu próprio mundinho e muitos quando comparecem é para criticar o trabalho do colega, sendo as vezes deselegantes. Não estou dizendo que a crítica não seja necessária, sim ela é. Mas é necessária se for vinda de juízes num festival, ou de um amigo o qual peçamos auxílio para melhoria do trabalho. Mas a falta de ética é crescente. Se não pediram sua opinião ,aprenda a ficar quieto.
Outro coisa que vejo muito é o “ego” lá em cima. Num dos trabalhos que realizei ouvi uma atriz dizendo para outro ator que ela era uma atriz completa “danço, canto e interpreto”. Fiquei só observando. Penso que quando nos sentimos completos é que alguma coisa está errada. Sou completo quando não me falta nada e se não me falta nada sou melhor do que todos que estão a minha volta.nem famosa ela é . Imagine se fosse!
Falo disso para nos analisarmos enquanto profissionais. Para que, por que e para quem atuamos? Por que escolhemos ser artista?
Acredito que todo verdadeiro artista é um ser diferente. Quem tem a mágica do artista na alma, tem uma sensibilidade enorme e percebe que em meio a tantos desafios, o desafio maior é crescermos a cada dia como seres humanos para contribuirmos para a formação de seres humanos cada vez melhores.
(Tessália Lemos)