Incongru
Não consigo escrever.
Não consigo dormir.
As palavras não querem ir pros dedos.
E a porta do meu quarto está na sala.
Doze mil caracteres na cabeça
Que por lá querem ficar.
Caralho.
Minha mãe entra toda hora aqui
Acendendo a luz e batendo as portas
Deste guarda roupa que está
vazio.
Agora há pouco ela falou que eu falar
Que trabalho é a minha desculpa pra tudo
E eu volvi, falando que o meu trabalho
É a minha realidade pra nada.
Ela deve se sentir chateada
Por ter um filho inútil e desinteressado
Nas coisas do lar.
Ontem eu cheguei zuado pra caralho
E fui direto pra cama e dormi pesado
E tive uns sonhos horríveis com ela
Que, quando acordei, estava abrindo
Umas gavetas dessa merda de guarda roupa
Vazio
E me olhando estranho.
Será que eu narrei o sonho?
A mesma pergunta que nele fiz a ela
Me impede de escrever e me impede
De dormir
Será que tendências suicidas são hereditárias?
Nem sei como está o dia lá fora.
Não consigo criar coragem pra sair do quarto.
Não consigo criar motivos pra sair do quarto.
Passo tanto tempo fora dele.
Este quarto parece a minha vida.
Passo tanto tempo fora dela...
18/06/2011 - 15h22m