TENHO UM QUÊ DE ATOR
E os atores hein? Benditos farsolas das emoções... Não sentiriam o que se permitem sentir, não fossem atores. Ator é um finório mentiroso que não tem pudor de ser mentiroso; aliás, sua principal virtude... Mente ora para si próprio, ora para os outros, e, ao mais do tempo, para ambos. O talento interpretativo para mais ou para menos reside na capacidade de não ter receio de expor-se a um incalculável ridículo, já que todo expectador sabe em seu íntimo da deslavada mentira a que assiste. Os que me ouvem a falar isso, afirmam, com total razão, que esta observação, sim, que é absurdamente ridícula... Isso não me comove: a verdade dita também é, geralmente, ainda mais ridícula e incrível do que a própria ficção. Não que esta aqui seja uma. Mas fica-me nítido ao escrever este texto que tenho um quê de ator.