Iceberg

Tenho cá um corpo quente preenchido por sangue quente esperando apenas a ponta de um dedo teu pra congelar. A ponta de um dedo que é a ponta de um iceberg. Gelo que queima. Gelo que me derrete. Inversão de tudo, quando um toque teu me atinge. Essa placa branca interior de gelo maciço dentro do teu corpo. Eu faria uma fogueira, se isso valesse alguma coisa. Se adiantasse alguma coisa. Tornar-me-ia facilmente um incendiário se pudesse resgatar o teu coração. Mesmo que chamuscado, mesmo que carbonizado. Hoje sou o carbono do que você desenhou e jogou o original fora. Procuro meu molde, sem sucesso na busca. Onde vende picador de gelo? Vou escalavrar essa carapaça fria. Vou subverter essa frigidez. Vou encostar os ouvidos no teu peito e fazer o possível pra ouvir algo crepitando dentro de você. Antes que minha nau afunde.

16/06/2011 - 23h51m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 16/06/2011
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