Céu de Brigadeiro
Eu fiquei observando você através da porta de vidro, sentada na rede, pensativa, olhar ao longe. Seu semblante doce e meigo necessitava expressar-se. Aproximei fisicamente de ti, mas ainda sem adentrar seus mais íntimos pensamentos. “Deita aqui comigo”, uma súplica ponderada, regada com aquele olhar intenso, pedido inegável. Deitei-me, aninhei-me, mas foi você quem se achegou em meu colo. Doce prazer de sentir o calor do seu corpo ao meu, carinho inviolável, sentindo o perfume dos seus cabelos no meu rosto, o encaixe perfeito do seu corpo ao meu. A rede balançou e você imediatamente a reteve. “Não, não balance”, disse em tom autoritário, porém, doce e suave, como tudo em você. Deixei escapar em meus pensamentos “Estou tão cansado, quero perder-me neste momento”, inaudível, você consegue me ouvir? Acredito que não. Mas aquele momento por si só era uma pequena doação dos deuses e, como não poderia ser diferente, eu aproveitei para aninhar-me mais ainda em você. Momentos assim, inolvidáveis, são raros também. Olhei para o céu, autêntico céu de brigadeiro. Um avião lançava-se no vazio, com destino incerto. “O que você está pensando?”, meticulosamente, acercou-se de preparar o caminho para sua própria jornada. Mesmo estática, a rede balançava levemente e sua voz era tão suave que parecia um sussurro terno que penetrava meu ser. “Sabe, Ale...” palavras tão íntimas, sentimentos tão profundamente guardados, medos revelados, fragmentos de uma vida que se quer revelar, não por inteiro, como um quebra cabeça montado, mas sim, frágil pensar de um passado distante e ao mesmo tempo presente. Uma ingenuidade perdida, tentativa de resgatá-la, improvável. Caminhei seus caminhos apenas com meus ouvidos, senti suas lágrimas em mim, beijei seus olhos e você perguntou se estavam salgados. Doce sal do amor. Hoje, sal, de saudade. Ficamos ali, por horas intermináveis... “Ale”, novamente o íntimo clamor. E meus ouvidos sedentos de um amor intenso, constante, seguro... “Ale”, fica comigo, não vai embora... “Ale”...