Cordão Umbilical

Maldito seja o minuto em que saímos do mar

E não havia ninguém para conduzir-nos à incineração.

Maldito seja o segundo que subimos nas árvores

Sem ter o impeditivo de arames farpados nos galhos.

Maldito seja o dia que resolvemos descer das árvores!

O que os dinossauros estavam fazendo ou pensando?

E os ursos? E os dentes-de-sabre famintos?

Até entendo que somos indigestos, mas, né...

Maldito tenha sido o primeiro boçal pré-histórico

A inventar de querer se comunicar e desenvolver inteligência.

Até os pombos de peito inflado, girando e distribuindo bicadas

Até os cachorros contornando o dorso do outro e cheirando o cu

Até os gatos fazendo barulhos horrendos nos telhados nas madrugadas

Conseguem ser mais interessantes e inteligíveis e suportáveis

Do que esse papinho de louça, picuinhas trabalhistas, missas

Feiras de Graças, resumos das novelas, brigas domésticas

E de prosopopéias maçantes sobre pegação geral em balada.

Maldita seja a oportunidade perdida

De ter me enforcado com o cordão umbilical!

13/06/2011 - 18h13m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 13/06/2011
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