Torturada
Me torturo com todas essas canções em meus ouvidos.Cantam minha dor.
Comprimem meu coração contra o peito e estilhaçam-no.
Sinto dor. Fogo nos olhos. Nó na garganta.
Uma explosão de sentimentos em meio aos estilhaços. Cortam-me. Deixam-me sangrando no escuro...
Não vejo o sangue, mas o sinto jorrando, o sinto empapando meu corpo. É quente...
Choro baixinho. Um choro dolorido, profundo.
Algo que antes fora pra dentro, é agora de dentro pra fora.
Assim externalizo a dor a que me submeto, trazendo à memória todas as lembranças mais esquivas. As mais turvas e distorcidas. Tão nítidas, tão vívidas em letras de canções...
Deveria apenas apertar o botão e acabar com a dor.
Não quero. Não posso. Não consigo.
Rendi-me. Encostei-me no canto da parede, entrelacei meus braços nos joelhos, baixei minha cabeça e deixei as lágrimas caírem, misturando-se com o sangue.
Dor é o que sinto.
Uma dor sem rótulo, sem designação, ímpar. Uma dor sintética. Uma compilação de todas. `
As luzes que meus olhos procuram se distanciam, somem; são engolidas pelo escuro...
Ele me engole também, sequer me enxergo, curiosamente, sequer me sinto.
A dor me adormeceu.
Assim estou assim permaneço: adormecida, torturada.