O Grande Espelho
Passando por uma ponte, notei que o riacho que sob ela existia, era possuidor de água límpida, que no silêncio chamava por alguém. Era uma incrível comunicação. O olá que aquelas águas davam a todos que por ali passavam era o refletir a imagem de cada um. Mas as pessoas vinham apenas lavar suas roupas, banhar seus corpos. Era como se um grito desesperador quisesse sensibilizar ouvidos que já não ouviam.
O que aquelas águas queriam, era bem mais do que dar um olá. Era despertar a atenção de alguém pela sua própria imagem e, quando caísse uma pedra, distorcendo-a, esse alguém não chorasse pela deformação da sua imagem, mas acompanhasse a queda da pedra até a profundeza de suas águas, notando a cada milímetro, a maravilhosa variedade de mundos escondidos.
Imaginando a existência do real, realizando a inexistência do imaginário.
E, mesmo quando a pedra tocar o fundo e, nos(so) senti(n)do (tudo) começar(mos) o caminho de retorno ao espelho, as águas que na nova quietude estarão, tornarão a refletir a imagem, continuando inocentes em seu chamado.