Não sou eu

Entraram sem pedir

enganei-me achando que era meu este recinto

pra que tantas armas e coturnos

nem bom dia falaram

caras amarradas e armas penduradas

empurrões e gestos brutos

não escutam meus sins e nem meus nãos

desprezam e humilham

isto não é muito pra mim

sol e cansaço sou acostumado

o tempo me faz sofrer

a falta me prepara todos os dias

o que me dói são as lágrimas dos meus

estão presenciando a brutalidade

não dói sofrer

o que dói e sofrer sem porque

aqui se amanhece em paz

faz quatro décadas

sorrir faz parte dos meus impulsos

sou rude e responsável

não faço mal

sou filho

sou pai

sou irmão

amo e tenho sentimentos

sou amado

trabalho e espero um bom futuro

não machuque os meus

evitem suas lágrimas

trabalhem de outra forma

quando chegar o momento verão quem sou

reviraram tudo e viram que não sou eu

espero que arrumem, mas deixa pra lá

é coisa do meu coração e de como fui criado

não abro sem depois fechar

não pertenço ao meio

trabalho e respeito

mas os meus choram

sentem minha falta

não dormem

alguém os acolha por favor

com seu poder e tamanho poderiam ajudá-los

não posso, não sou permitido

os limites deste ambiente e o gelo das canetas impedem

tenho alma

tenho que cuidar dos meus

há dores, sou amado

sentem muito a minha falta

quero dizer que estou sofrendo a distância

não façam isto

pois não sei sofrer

não me ensinaram

fui feito para sorrir e alegrar

tenho apelidos

são engraçados

sou desengonçado e muito sério

quero tudo alinhado

mas me confundiram

sei disto

sou o segundo a saber

o primeiro foi o meu Senhor

se o homem não livrar as pedras o farão

mas nEle eu sou livre

juntei-me ao sofrimento do Senhor

um Justo julgado como ladrão

mas sorriam

lágrimas são difíceis e se contam

sorriso não se mede

basta o mínimo para ser e valer

suscitará em todos um grande regozijo

provocará uma imensa alegria

quando me verem farão uma grande festa

o retorno é sempre glorioso

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