ACREDITEI
Acreditei em novos amanheceres, para que eu pudesse começar tudo de novo, enquanto o fim se tornava o começo e o fim se tornava um novo começo, só assim esqueceria o amargo gosto dos erros cometidos, e os arrependimentos dos erros que não cometi.
Acreditei em um lugar que eu pudesse chamar de lar, onde eu poderia descansar meus pés, descansar meu corpo e limpar minha mente e se abastecer de forças novamente.
Acreditei que chorar diminuiria minha dor, mais apenas amargava minha vida, como uma fruta que apodrece todo o cesto de fruta, cada pensamento, cada membro composto de minha alma apodrecia, tornando tudo ainda mais salgado.
Acreditei se eu orasse mais, deus iria me ouvir, orei e orei, até que a fé tornou-se esperança, e a esperança tornou-se um castigo.
Acreditei que um dia eu poderia voar sobre os céus, só assim eu poderia ser livre, me juntaria aos anjos, aos astros e aos deuses, mais eu ainda continuava ali no chão, olhando para cima.
Acreditei na amizade sincera, que muitas vezes me machucou, pensei que mesmo nos momentos de brincadeiras e companheirismo estaríamos sempre juntos, mais ao olhar para trás vi que caminhava sozinho.
Acreditei nas palavras que sempre pensei que fossem usadas para expressar sentimentos bonitos, mais não imaginava o quanto podiam magoar, quando ditas por más línguas.
Acreditei na coragem, mais diante do medo meu corpo tremeu, fui dominado pelos sussurros em meus ouvidos, meu corpo paralisou, enquanto eu havia me tornado um covarde.
Acreditei no amor, na sua beleza e existência, mais não sabia que tudo passava de ilusão de algo criado pelo meu inconsciente, todas as juras que me dizia nas entrelinhas amor, eram mentiras, juras que se tornaram em palavras vazias e sem sentidos.
Acreditei em um futuro enquanto esperei ansioso, os dias passavam enquanto as promessas de que dias melhores viriam, os dias se perderam no esquecimento e tudo continuava como antes, um futuro incerto e sem nome, só me restou-me as lembranças do passado, das quais ainda podiam amenizar a minha alma de meus arrependimentos.
Acreditei que eu fosse imortal, mais a natureza havia sido cruel com o meu corpo frágil, capaz de sangrar, correr não era mais possível, meu corpo havia chegado ao limite, desfalecido minha mente ainda sobrevoava o meu corpo.
Acreditei nas pessoas, mais nas várias vezes fui traído, esmagado e humilhado, mesmo quando eu queria dizer palavras sinceras eu era apedrejado por minhas próprias palavras, então percebi que as pessoas eram hipócritas que lutavam entre si, vi suas almas se dissiparem pela ganância e a inveja.
Acreditei nos sonhos, pensei que se esforçasse mais, eu os realizaria, tudo que lutei e percorri, várias cicatrizes, olhei em volta e vi que tudo flui da minha mente, não tinha pernas, mais queria andar, não tinha braços mais queria lutar, tudo que eu queria não podia ser feito a parti de sonhos.
Acreditei na felicidade, acreditei que sorriria novamente, um sorriso simples e sincero, o vento soprou, e consigo veio apenas o desejo de dias felizes, até minha face ficou rígida, sorrir não era mais possível sem os belos momentos que acreditei que eram possíveis.
Acreditei que a vida fosse eterna, só assim poderia ver mais pôr do sol, poderia errar sem olhar para trás, poderia voar sem ter medo de cair, poderia amar sem ter medo de ser magoado, andaria mais sem me preocupar para onde eu iria ou deixaria de ir, amaria mais e esqueceria tudo, provaria o proibido e eternizaria a loucura de meus pensamentos, sem me ligar para o fim, mais apenas para um novo começo, mais tudo passava de pensamentos martirizados por uma alma sem compreensão, pois meu corpo faleceu pelo longo cansaço chamado tempo, minha alma evaporou no ar, tudo que sempre fui acabava ali, um universo há menos.
Acreditei em mim, e disseram que eu era louco, continuei a dizer e cortaram minha língua, continuei a lutar por mim, e me arrancaram os braços, mesmo assim continuei caminhando, me arrancaram as pernas, ainda me restavam os sonhos imperfeitos que me tornavam inútil, indiferente como águas passadas que já não se contam no leito, apenas deságuam no descanso eterno.
Havia algo que nada poderia arrancar de mim, nunca, nem os homens e nem os deuses, esse era meu ser, um ser feito de fragmentos de sonhos, desejos, pensamentos e ideologias, sombras daquilo que eu acreditava estavam enraizados em minha alma, era só isso que me restava, tudo que me prendia para não ser engolido pela superfície, minha tolerância do perdão era branda, na crença que acreditar será possível entre aqueles que são loucos, prefiro acreditar do quê nunca acreditar em nada e viver no vazio eterno esperando que algo seja feito. Se me perguntarem no que acredito? Direi “acredito no que eu sou”.