Monólogo Pt. 2

Eu me perdi

Nessa caminhada que se intercala entre passos lentos e passadas largas, eu me perdi em alguma curva. Perdi a direção e não vejo como voltar a meu ponto de origem, como se algo estivesse me tragando para o caminho sombrio e tortuoso ao qual estou agora. Devo ter me perdido na curva dos dezoito anos, ou seria dos dezesseis? Amores, vícios, amizades, prazeres... Foi uma época de excessos. Sonhei tanto, quis tanto a notoriedade e o reconhecimento de meus amigos que acabei por ficar nas lembranças de todos, porém, na prática aquele não era eu.

Cheguei à conclusão de que sou triste. Tudo que sou hoje, tudo que me tornei foi uma soma de souvenirs que peguei pelo caminho e fui pondo no meu bolso e usei quando mais me foi conveniente. Não sou escritor, e nem tão pouco escrevo coisas belas como dizem... Tudo que jaz ao papel são os ecos da minha cabeça, meus demônios pessoais que, como em uma espécie de psicografia saem pela folha. Se alguns gostam, bem, saibam desde já que eu não sou nada responsável por isso.

Houve um tempo em que eu quis muito sair de casa, largar o mundo que me cerca e viver uma experiência incrivelmente nova. Fugir da minha realidade e apenas com uma mochila nas costas desbravar cidades, lugares, e até mesmo países. Se eu tivesse essa coragem ainda hoje, talvez eu fosse um pouco mais realizado.

Ah, eu também tenho sonhos. Sonho em um dia ter uma família, ter casa, filhos e essas coisas todas. Alguns podem se perguntar por que penso nisso uma vez visto que sou bem novo e que pessoas da minha idade não pensam neste tipo de coisa. Mas o meu sonho é conflitante com meu medo; e meu maior medo é o de ser sozinho.

Terminar a vida sem ninguém ao lado, a meu ver, é a pior amargura que um ser pode carregar para si. Simplesmente sou louco por essas coisas, são fixações minhas, são coisas das pessoas que escrevem... Todo aquele que escreve, carrega em si uma benção e uma maldição, que são tão únicas quanto a sua impressão digital ou a sua forma de escrita.

Quem foi que nunca pensou naquela frase bem bolada, que se encaixaria no tempo certo da prosa e saiu correndo para procurar algo em que escrevê-la? Ou que nunca viu uma situação trágica ou cômica no trabalho, no ônibus, ou na rua e pensou em escrever sobre? O escritor que não deseja reconhecimento pela sua obra, nem um simples aplauso, merece algum prêmio da categoria simplicidade ou altruísmo.

Tenho uma coisa que é só minha, que é de escrever coisas que se passam comigo. Portanto, se ocorrer de surgir um texto crítico, ou triste, ou feliz demais serão exatamente destas formas que eu estarei. Não consigo escrever algo que não esteja se passando por mim. A escrita flui por mim como um fio de alta-tensão, quando menos vejo, ela se apossa de meu corpo, toma minhas mãos e voltando a mim, tenho um texto pronto em mãos...

Se é um dom não sei, se é uma dádiva, idem.

Mas o que sei é que escrevo, e que escrevendo vou levando a vida como um caderno em branco.

Marcos Tinguah Vinicius
Enviado por Marcos Tinguah Vinicius em 29/05/2011
Código do texto: T3000106
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