Hoje eu sou o que restou do que restou.

Hoje ganhei um presente da mamãe. Uma escova de cabelo. Achei estranho. Pra mim, parece coisa de outro mundo. Sabe há quanto tempo meus cabelos não veem um pente sequer? Eu não faço idéia. Há muito perdi esse hábito. Desde que quase fiquei careca pela primeira vez quando, num surto – psicótico, talvez – cortei os cachos na nuca. Eu até gostei. Na época. Praticidade, menos tempo em frente ao espelho, leveza! Nunca tive muita paciência pra ficar me embonecando. Não lembro se nessa época, mas tinha vontade de ficar careca mesmo. Com uma bela tatuagem que se perdia nem sei onde... hoje eu sei que não tenho coragem. Nem de raspar nem de entregar minha cabeça nas mãos de um “furador profissional”. Ai! Por falar em tatuagem, há anos planejo, projeto, desenho, procuro, invento... até hoje, nada. Mas, um dia, - sem estipular prazos, porque isso dá azar – um dia terei cerejeiras a enfeitar o meu corpo, a minha morada. Que seja doce, confortável e segura enquanto a mim pertencer.

Ontem Avril Lavigne teve, mais uma vez, o prazer de ser mãe. Ando sensível demais a esses acontecimentos. Lindóia está comigo, e ainda é muito esquisito. Dez anos de convivência, e jamais me habituei a sua presença. Menos ainda aos estragos que ela me faz. Esse turbilhão de sentimentos que eu nem consigo controlar, nem definir, nem entender, nem suportar. E quem consegue?! O fato é que eu não suporto mesmo estar à flor da pele. Eu me machuco e machuco as pessoas sem olhar nome, cara, grau de afinidade... essa não é minha concepção de ‘ser humana’.

25 anos! Tem noção de como o desejo de ser mãe berra aos meus ouvidos?! Tudo dentro de mim saculeja desequilibradamente, como a gritar “TÁ NA HORA!” É, talvez esteja na hora mesmo. Todas as noites sonho com Manuela. Mas eu ainda preciso dar uns tapas na vida antes de... Eu tive que mudar os planos, e refazer tudo aqui dentro leva tempo. Colocar cada pedacinho em seu lugar, preencher os espaços vazios, encher o vazio de amor. Então seremos nós duas!

Nunca vi essa pracinha tão vazia. Por muito tempo tive medo de colocar os pés aqui. Parecia bem mais perigoso do que, na realidade, nem é. Hoje, a vontade que tenho é de carregar pedaço por pedaço dentro da bolsa, e levar pra casa. Aqui só não é muito respirável.mas ela pode ter o cheiro que eu quiser.

São 19:15h. Estou faminta, mesmo depois de engolir um oceano inteiro pra tentar alcançar um mínimo grau de saciedade que fosse. Xixi pra caramba, e a fome só aumenta. Ai, que saudade do tempo em que emagrecer era tão mais fácil. E da minha força de vontade. Fato considerado e estúpido: depois da minha doença, eu nunca mais fui a mesma. Tudo em volta entristeceu. Paulo Coelho diz “Se você não está feliz, finja que está. No final de 7 dias, estará.” Tento acreditar, meu querido. Como eu tento. Será que um dia eu vou voltar a ser quem eu era? O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. Clarice que disse. E parece tão eu. Tão meu. Hoje eu sou o que restou do que restou. Estou me reduzindo tanto, que tenho medo do que posso me tornar. Há pedaços meus por todos os cantos. E não tenho forças pra REcolar tudo...Não agora...

19:25h. Prova de Linguística em meia hora. Devo me desculpar pelo meu aparente descaso, descuido e desinteresse pelos estudos? Sorry! Morivos estúpidos, mas eles existem.

A La forca.

A propósito, pentear os cabelos faz um bem danado.