*Desabafo

Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Texto publicado no jornal “Folha de São Paulo”, Caderno “Sinapse”.

(Rubem Alves)

- É uma coisa que anda não saindo da minha cabeça.

Morte, fim dos problemas terrenos; dor, solidão e preocupações [fim].

O assunto que ouvi chamou-me a atenção, e pensei: “será que sou tão egoísta?”.

Minha mãe contou que um menino de 10 anos havia falecido, causa? Um caminhão passou por cima dele! Coitado ela disse; Confesso não ter sentido pena, simplesmente chegou à hora da sua partida! Não sei se ele queria isso (provavelmente não) sabe-se lá. Digo isso porque já pensei tantas vezes na morte, fim das minhas dores e frustrações; termino da solidão! Um novo começo, uma nova vida na morte; Pra que se vive? Qual a função de um único ser humano neste tão grande Globo Terrestre?

São questões e mais questões; Complicadas às vezes, outras simples. E se morrer fosse escolha, se houvesse formas de pedir a Deus para ser levado; Já teria pedido há tempos.

- Não tenho medo de viver, só estou cansado; Afinal são vinte anos, quase vinte e um e ainda não sei o motivo de ser um “Humano Praticante”.

E até que tenho uma “boa vida”. Amigos, pessoas importantes; uma família complicada mais que me ama e é recíproco, tenho sonhos que ainda não realizei; planos e projetos! Penso em viver um bom futuro, mas isso deixa de ser importante quando penso na Morte. Essa simples e gentil companheira que nos visita algumas vezes; E existem os que a temem. Houve um tempo em que temi a Morte, hoje já não mais; acho que já vi e vivi o suficiente, seria uma boa hora para me retirar.

Penso em poucas coisas que ficariam para trás, minha mãe que choraria por dias a fio – mais ela é forte e se sairia bem – minha irmã também sentiria, mas o computador ficaria pra ela e apenas ela sabe a senha – ela se esqueceria também – Alguns amigos sentiriam falta de mim, uma falta grande acho eu [curiosidade do autor], poucas pessoas se importariam com isso; vejo isso nos olhos delas, imagino o que os credores pensariam: “este se foi sem me pagar” aposto que muitos pensariam nisso; A verdade é que morrer não é tão ruim quando se pensa nas alternativas, viver; isso cansa, fatiga e mata aos poucos. Morrer não, simplesmente se morre!

- A morte é uma amiga confiável, quando vem leva todos os nossos segredos...

E não os revela para mais ninguém;

Espero que ela venha então, tenho tantas coisas a contar!

Não que eu seja covarde, mas não vejo tanta alegria em continuar vivendo morto.

Paschoal George
Enviado por Paschoal George em 26/05/2011
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