O divórcio de Palavras
Conheci Palavras há muito tempo atrás,
Quando ainda era bem jovem...
Brinquei com ela durante toda minha infância
Magia, Sorriso, Conto de Fadas,
Eram algumas de nossas brincadeiras favoritas.
Mas eu cresci, Palavras também.
E todas as redundancias para falar de sua beleza
se tornaram escassaz.
Seus predicados conquistavam Poetas
Que a ela se rendiam; Palavas tomava conta
de seus pensamentos, desesperados ficavam por
expressar tudo o que sentiam!
Mas ela simplesmente não os queria...e eles emudeciam.
Palavras era tão segura de si, falava-me
De Sonhos e de Liberdade.
Contava que já havia estado no Infinito, visitado o céu
Conversado com as estrelas,
Já tinha feito muita gente chorar, mas também tantas outras rir.
Dizia que as pessoas a procuravam para expressar o que sentiam, e ela as ouvia, sempre buscando um substantivo para as consolar...
Pensava que por isso muitos a desejavam, a queriam para si.
Mas ela buscava alguem que lhe amasse de verdade, alguém que,
mesmo quando não fosse capaz de execer todas as funções que a Linguagem lhe impunha,
mesmo quando ela só respondesse com o devaneio das reticencias,
Amasse-a com a força das exclamações.
Fascinou-me tanto suas prosas, que por ela enamorei-me.
E o tempo passou, para mim e para Palavras.
Quando me achei maduro o suficiente, a pedi em casamento.
Palavras emudeceu...
Mas logo em seguida, exultante aceitou.
Planejamos uma grande viagem:
Paixão, Loucura, Desejo
Palavras fez-me conhecer lugares que nunca imaginei!
Vivi com Palavras
A luz e todas as suas cores
Senti com Palavras todas
as sinestesias
Amei Palavras com todas as suas hipérboles
E ela amou-me com todos os sinônimos.
Durante nossa união
Ensinou-me tudo que sabia sobre
Felicidade, honra, fidelidade.
Ah, Palavras!
Com seus verbos implacáveis!
Com seus advérbios intensos!
Lembro-me que quando me via triste
Encenava-me suas figuras
Cantando-me algumas metáforas
E logo meu coração já não era paradoxo,
Era entegue, era alegoria em seus papéis.
Mas um dia...sem letra nem aliteração
Palavras se foi...é...ela se foi....
Deixando apenas a loucura das interrogações.
E foi aí que descobri coisas deste mundo
das quais a sua presença jamais fez-me saber:
Silêncio, silêncio, solidão, solidão...