O Amor é um Lar a ser cuidado

~Quando eu fui sair da Casa de Meus Temores e Amores, lá estava você me esperando, sorrindo largamente em uma combinação de satisfação e escárnio, o mais sádico deles. Eu não sabia como reagir, não sabia se continha as lágrimas, não sabia se esmurrava sua presunçosa intenção, não sabia se lhe dizia algumas adagas silábicas. Tudo o que eu sabia é que estava indo para fora daquela calamidade que por algum tempo foi meu lar, que por algum tempo me senti confortável, que tudo corria tão bem até nos sentirmos distantes demais, e cada um confinar em pífios planos, de desespero ou indagação. Mas quem logrou e assim guerreou foi você, nessa conjuntura de chamar e excomungar, na corda bamba entre o Ódio e o Amor, em que o fosso era a Vida de Lá Fora, a Morte de Nós. Cada fato incoerente que você usava para me empalar sob a loucura de existir me fazia ter lapsos da existência, a dúvida de se realmente valia a pena viver por alguém, se havia algo que justificava cada ato que você descrevia, nesse círculo que andamos até se desgastar e romper. Hoje, estou Aqui Fora, olhando o quanto estava velha e suja a nossa Casa, concluindo o quanto esquecemos de um mundo que nos cercava e me perguntando algumas vezes se você por acaso um dia deu uma volta por Aqui e enxergou o plano que enxerguei, pois o mais tolo sábio saberia responder que, em breve, tudo se tornaria uma Ruína, que seria regada por chuvas e pelo vento, e que um dia cada Um de Nós, não mais sendo Nós, visitaríamos, com lembranças iguais, mas com diferentes intenções, cada um pensando que um dia esteve lá e percebendo que, sem a outra metade, aquilo tudo é tão vazio e sem sentido. Logo iríamos embora, talvez com um fragmento da Ruína em nosso bolso, mas só porque aquilo é uma parte de nosso Coração que ficou por lá, que não pretendemos usar pra preencher essa lacuna, mas guardar para que, um dia, ele se torne tão esquecido que, se for recuperado, já não saberemos qual é o seu sentido, fazendo de tudo um Novo Final e um Velho Começo...