A Vida Tem Sentido?
Muitos foram os filósofos que tentaram (cada qual de sua maneira) responder a esta pergunta direta ou indiretamente, outros preferiram se calar.
Na Modernidade alguns filósofos, a exemplo Descartes, não se ocuparam com este assunto. Para eles, o sentido geral do mundo não era uma questão relativa aos seres humanos, mas uma resposta que tinha sido dada por Deus. Quem viveu na idade média, no Renascimento e no Barroco não precisou se ocupar com a questão do sentido. A igreja lhes dizia quais as ideais e projetos de Deus em relação as pessoas (isso não mudou tanto assim em face a igreja contemporânea, seja de qual espécie for) e tudo estava bem. A questão do sentido da vida começa apenas no final do século XVIII e começo do XIX.
Para Immanuel Kant, a finalidade da vida era preencher sua tarefa moral. Para Jean-Jaques Rosseau, era ter capacidade e direito de Viver de acordo com a própria natureza. O ser humano nunca deveria ter de fazer algo contra a sua vontade. Para Jeremy Bentham, era o maior prazer possível para si e para os outros. William Paley reconhecia o sentido da vida humana num número preferencialmente grande de “obras úteis”.
A questão passou por um verdadeiro boom em meados do século XIX. Os sucessores filosóficos de Kant, Fichte e Hegel ficaram um tanto aturdidos diante de obras monumentais de seus antecessores e deram de ombros.
Arthur Schoupenhauer (um dos maiores que já li), Soren Kierkegaard, Ludwing Feuerbach e, de modo indireto, também Karl Max tentaram, cada qual a sua maneira, responder a esta pergunta. Schoupenhauer rejeitava enfaticamente que o ser humano existia “para ser feliz”. Como ele é e continua sendo escravo dos seus desejos, há pouco espaço para um sentido livre e mais elevado. Apenas a arte, em especial a música, proporcionava um deleite ao ser humano. Friedrich Nietzsche (um dos meus preferidos) e Sigmund Freud concordaram. Para eles, a questão do sentido da vida era uma expressão de fraqueza corporal e mental. Uma pessoa saudável não precisa de um elevado sentido para a vida. O que precisa para ser feliz é música (Nietzsche) ou amor e trabalho (Freud). Para Ernest Mach, a questão do sentido não fazia sentido, pois o ser humano é vários eus durante a sua passagem pela terra: um eu na infância, outro na adolescência, na vida adulta, etc., portanto, não tinha lógica falar em um único sentido para os múltiplos eus que o homem é durante a vida.
No século XX, grandes pensadores se destacaram por não aceitar respostas simples e claras. Um exemplo é Ludwing Wittgenstein. Para ele, a questão sobre o sentido da vida estava no rol das “perguntas sem sentido”, pois a natureza da pergunta não pressupunha uma resposta positiva. Wittgenstein disse certa vez: “Mesmo as pessoas que depois de muito duvidar encontraram o sentido da vida, não conseguiram dizer em que consistia tal sentido”.
Jean-Paul Sartre (outro que muito leio e admiro) acreditava que o sentido da vida é a auto-realização por meio das ações. Como o mundo, em si, não tem sentido, tenho liberdade para forjar o meu próprio sentido. Para Peter Singer, entretanto, tal formação do sentido é associal. Para ele, o que importa é rolar a pedra do bem um pouco mais a frente e tornar o mundo “um lugar melhor”.
É óbvio que não poderia deixar de lembrar que existem também explicações sobre o sentido da vida com base na biologia evolucionista, mas seria melhor evitá-las. Dizem estes cientistas, que o sentido da natureza é igual ao sentido do ser humano, porém o ser humano não é apenas natureza e o “sentido” não é uma unidade de medida científica, não é um objeto nem um processo eletrofisiológico. O sentido é invisível também para si mesmo.
Após citar alguns filósofos nesse passeio lúdico em busca de respostas para o “sentido da vida”, concluo, agora em sob meu ponto de vista, que o sentido da vida só poder ser encontrado de maneira subjetiva. A pergunta a ser feita não é "qual o sentido da vida" (de maneira geral e universal) mas "qual sentido tem minha vida?" (por uma ótica específica e particular). O motivo é simples. O sentido não é uma característica do mundo ou da natureza, e sim uma construção tipicamente humana. Sentido é uma necessidade e uma idéia de nossos cérebros de vertebrados. Portanto, não é o caso de se procurar um sentido no mundo – ele tem de ser dado por nós mesmos. Depende também de nossa consciência, isto é, da nossa lógica humana e da nossa maneira de se comunicar – Linguagem.
É possível que o motivo mais importante para essa nossa necessidade de sentido seja saber que um dia iremos morrer... Mas este caminhar para a finitude, hora após hora, dia após dia, é algo que não podemos mudar.
PROFANO QUERUBIM 08/05/11