- Obrigado pai
Tudo positivamente bem, e o destino se intromete e me faz perder coisas importantes. Confesso que isso me remeteu a pensamentos horríveis, e a tristeza se apossou de uma forma inusitada; Infeliz é como me sinto!
Havia escrito algo tão intimo quanto pudera; avassalador eu diria, e imbecilmente o perdi (e não vou entrar em detalhes).
E mais uma vez fui arremessado a minha “proveitosa infância”, tive tudo que uma criança poderia ter – games, mochilas, tênis e etc. – realmente tudo que um garoto da minha idade desejava; Bom, nunca fui tão normal assim.
Desejava o que os outros meninos tinham, lembro-me de subir o muro de casa para apreciar as belas pipas que faziam um show único no céu; invejava os outros meninos da minha idade que exibiam seus pais para todos que passavam pela rua. E eu me perguntava freneticamente “será que eles trocariam comigo?”.
Pois enquanto eu possuía tudo o que eles gostariam de ter dentro de casa, eles tinham tudo o que eu almejava ter por apenas alguns momentos; Afinal, o tempo de menino logo passa e não se vê tanta notoriedade nos assuntos passados.
Eu queria ao menos uma vez ter corrido de mãos dadas com senhor, ter treinado naquela bicicleta de 18 marchas que era a sensação do momento lá nos meados dos anos 90. E quanta das vezes a mãe me pegou de surpresa em uma festa do dia dos pais que você não havia comparecido.
Era meio humilhante nunca poder contar com o meu “Super Pai” quando mais precisava; eu fingia nem ligar, afinal cortar meus pulsos não ajudaria em nada e você ficaria apenas descontente com esse ato!
Por anos corri atrás da sua aprovação, sempre procurando ser bom o suficiente para ser notado, e então uma descoberta; Você sempre notava minha presença quando algo de errado havia sido feito; Conclusão? Tornei-me realmente bom em ser mal. É como havia dito, as coisas mudam e... Você aprende que ser mal é legal no inicio, mas depois se torna um clichê!
Eu cresci, realmente cresci; e hoje vejo o homem que me tornei. Tão cheio de pressa, tão ocupado pra todos!
Tem alguns anos que venho pensando nisso, será que os filhos são miniaturas dos pais?
- Hoje vejo o homem que me tornei; um bom homem eu diria.
Então isso significa que você fez um bom trabalho? Fico pensando como seria se tivéssemos jogado bola juntos ao menos uma vez – talvez eu tivesse me interessado por futebol, ou não –, se aquele sábado em que o senhor havia chegado tão cansado (como todos os outros) nós poderíamos ter dado algumas voltas de bicicleta (já que sempre fui uma negação para isso). A verdade é que sempre me vi destacado, sempre posto ao lado pelo senhor e isso me afetou algumas vezes.
Não, eu não o culpo por nada, afinal, o culpado deveria ser o trabalho certo? Era essa a desculpa que o senhor sempre dava. O dinheiro precisava ser posto na mesa, a comida precisa ser comprada e blá blá blá.
É eu cresci; normal, saudável e com uma personalidade completamente alternativa; te culpar por alguma coisa? Nunca!
Porém nunca cometer seus erros no meu futuro. Hoje eu entendo como é importante ser presente. Eu quero nunca, nunca repetir suas burradas.
- Obrigado pai, obrigado por me ensinar a não ser como você!