A dor, a lembrança e a ausência
Há certo tempo, numa tarde que findava (e que, de repente, tornou-se 'fim'), eu vi algo. Uma amiga chamou-me: "Venha, venha, deixe-me tirar você daqui!".
Olhei-a sem ver, pois ainda via o que vi, mesmo quando já não acontecia. Eu disse: "Onde está a minha dor? Eu PRECISO da minha dor!", e me belisquei, porque minha pele adormecera.
O corpo voltou ao normal após quarenta e oito horas, mas eu fiquei sem poder sentir por mais tempo; depois a dor veio como um trem desgovernado, carregado de pedra, e eu chorei quarenta minutos, sem parar.
O tempo foi passando - o tempo nada faz além de passar, todos sabem, mas enquanto ele passa, águas correm por baixo da ponte, danças se ritualizam, beijos tomam outro gosto, também por gosto...
Então a dor tornou-se a lembrança da dor. E doía.
O tempo passando, a lua crescendo e minguando, informações se renovando, aí a dor tornou-se a ausência da dor... E dói.
Nem eu, que sei muita coisa, sabia o quanto precisava da minha dor!