O Deserto.

Hoje acordei com saudades dos meus sonhos, do outro lado, onde eu posso ser eu mesma. Por vezes imagino que lá é a realidade. Não me sinto encaixada aqui. Lá é tão sutil. Mesmo que lá existam batalhas, lutas contra demônios_lá eu me sinto viva. Sinto tantas saudades de mim. Do meu eu, do meu ser. De dançar nas areias escaldantes do deserto. De recriar universos. Isto aqui é uma ilusão, uma prisão. Só estarei segura quando estiver vivendo os meus sonhos. Saudades das cítaras, tambores e flautas, da minha tribo. Do beijo que me pertence. Das mãos que pelo infinito tocarão o meu corpo. Eu sou Sayadina e o deserto é o meu amor. Ser a rosa do deserto é manter-se em recato e pureza absoluta, manter a chama do espírito acesa. É sofrer na solidão. É beber das fantasias e delas me realizar. Estou fadada ao esquecimento.

Estou fadada a peregrinar; _ somente eu e o meu cajado. Sinto-me banida de todos os reinos. Não possuo laços. Minha casa é o céu acima de minha cabeça e meu coração é o solo onde piso. De que me adianta ter previsões, me entregar ao Todo Poderoso, se o meu escolhido, o meu ungido, o meu vaso sagrado não está ao meu lado? Profetizo minha própria sorte. Por Allah, por mil camelos, que saudades de casa. Que saudades do meu deserto. Não aceito meu destino, porém compreendo; pois nada sou além de pó. Allah que dita minha vida e se assim terei que seguir aceitarei minha própria sorte. Enquanto isso, as lágrimas desprendem-se florindo as areias, tornando-as férteis. Recolho-me a insignificância nos recônditos de meu ser, mergulharei cada vez mais fundo em minha alma, para quem sabe, me desprender de vez desta matéria. Quero adquirir o esquecimento e, somente assim poderei deixar de agonizar de amor. O meu amor está além das fronteiras, do conhecimento humano, ele é divino, é real e não é mortal. Traz em sua boca as sagradas escrituras e profetiza todas as luas, derrama dos seus lábios o mel do Sol. E assim (Bendito Seja) o meu amor caminha errante; _ ele é peregrino, tanto quanto eu. Somos apenas a imagem e semelhança um do outro. Eu sou o reflexo e ele o meu lago. Desejo que sua lâmina nunca se parta; _ e, sua água nunca seque. O meu amor é um guerreiro Tuaregue...

Lu Rocha. 02/05/11 às 10:45 _ outono.

Zyrennah
Enviado por Zyrennah em 02/05/2011
Reeditado em 02/05/2011
Código do texto: T2944100
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